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Francisco Pinto Balsemao – Homenagem a um amigo que nunca esquecerei

Desapareceu Francisco Pinto Balsemão, um dos homens mais completos e influentes da sua geração.

22 Out 2025 - 01:00

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A primeira pessoa a saber do futuro Jornal PT50 foi o Francisco Pinto Balsemão. Foi no PABE, em 2024, no último almoço que partilhámos, após vinte anos de amizade. Conhecemo-nos em 2000 — foi meu professor no mestrado em Ciências da Comunicação que frequentei na NOVA FCSH. Um excelente professor. Por isso decidi que seria meu Professor para sempre.

Quando conheci pessoalmente o Francisco Pinto Balsemão, como todos os portugueses, já o conhecia muito bem devido à sua vida pública, mas também porque o meu pai, igualmente jurista, fora seu colega de tropa e amigo de juventude. Quando ouvíamos falar dele, devido aos seus aguerridos empreendimentos ou às suas posições políticas, o meu pai recordava sempre, com muita graça, os episódios caricatos que tinham vivido juntos na tropa. Curiosamente, já depois de o meu pai morrer, em 2023, revi algumas dessas histórias na autobiografia que Balsemão lançou nesse ano — quase na mesma versão —, onde se percebia claramente que aquelas memórias comuns tinham sido construídas sobre horas e horas de amizade forjada em ambientes adversos, como imagino que sejam as que se criam na tropa ou num colégio interno.

Acredito que, para além dos vários interesses que tínhamos em comum, este laço improvável contribuiu para que existisse sempre entre nós um vínculo invisível, construído pelo sentido de humor e pela fina ironia que partilhava com o meu pai — e que eu recordo sempre com tanto carinho e emoção.

Hoje, no dia em que o meu Professor desaparece, não posso deixar passar as horas sem afirmar que fui uma grande privilegiada. Francisco Pinto Balsemão foi, certamente, uma das pessoas mais completas e influentes da sua geração. Não gostaria aqui de me referir à sua vastíssima vida pública nem ao impacto socioeconómico que teve no nosso país, por via do seu percurso político e do seu grande sentido empreendedor — outros terão certamente muito mais para dizer do que eu —, mas quero referir as qualidades extraordinárias que tinha enquanto pessoa.

O que mais me impressionava era a sua curiosidade intelectual. Ninguém o igualava nessa matéria. Tudo lhe interessava, desde os pormenores mais pequenos da vida das pessoas até às tecnologias mais avançadas. Podia falar-lhe do novo sistema de pagamentos do Metropolitano de Lisboa ou de uma pastelaria francesa gerida por IA — tudo para ele era motivo de conversa e reflexão. Gostava de negócios e empreendimentos, os seus e os dos outros. Interessava-se sempre. Seguia com atenção tudo o que o rodeava profissionalmente: perguntava, opinava, pedia opinião, escutava, contestava — tinha uma mente em constante ebulição.

Aliada a esta curiosidade pelas coisas do dia a dia, nutria também um grande interesse pelos grandes temas políticos, económicos e culturais. Sabia tudo o que se passava no mundo, seguia de perto as novas tendências e fazia questão de estar informado sobre tudo o que nos rodeava: a energia nuclear, os radicalismos de direita, a nova China — tudo, para ele, era interessante. E, aliado a isso, não se esquecia de ouvir boa música, de ler bons livros e de saber quais as exposições que estavam patentes na Gulbenkian. Parece mentira, mas é verdade.

É que, no meio desta insaciável sede de conhecimento e desta incrível capacidade de empreendimento, conseguia manter um equilíbrio raro — uma forma, um sentido estético — que fazia com que tudo o que dissesse ou fizesse tivesse sempre alguma leveza, aquela leveza aparente que só os melhores conseguem manter.

Apesar de ter sido um homem bonito — e, por isso, alguns o acusassem de vaidoso —, era, na realidade, o mais modesto dos homens. Era amigo do seu amigo, um conselheiro sensato, não gostava de se evidenciar, nem de peneirentos ou de pessoas que se levavam demasiado a sério. Nunca me esquecerei quando me disse que lançara a sua autobiografia “apenas” porque achava importante deixar para a história a sua própria versão dos acontecimentos da sua vida.

Talvez estas palavras sejam demasiado prosaicas para celebrar a vida de uma pessoa que tanto marcou o nosso país, mas gostaria que fossem uma homenagem ao homem excecional que era. Para lá da brilhante vida pública que teve, construiu — e mereceu — a fantástica família que teve e todos os amigos que cultivou.

No nosso último almoço, pediu-me expressamente que lhe desse nota dos avanços que ia fazendo nos meus novos projetos editoriais — o que fui fazendo, na medida do possível. Mas sempre acreditei que, para honrar verdadeiramente a nossa amizade, o mais importante seria fazer o que nesse dia lhe disse que ia fazer. Já fiz, e está a crescer. Porque tive um grande Professor e um grande amigo. Obrigada por tudo. Nunca o esquecerei.

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