Subscrever Newsletter - Mantenha-se atualizado sobre tudo o que se passa no sistema financeiro.

Subscrever Newsletter

Mantenha-se atualizado sobre tudo o que se passa no sistema financeiro.

Submeter

Ao subscrever aceito a Política de Privacidade

4 min leitura

Apagão ibérico levou a uma corrida às notas de euro

Banco Central Europeu publicou um estudo sobre a importância do dinheiro físico, sobretudo em momentos de crise. Há países que chegam a aconselhar as famílias a guardar em casa 100 euros por elemento do agregado familiar.

25 Set 2025 - 07:15

4 min leitura

Foto: Unsplash

Foto: Unsplash

O trabalho, divulgado na quarta-feira pelo BCE, intitula-se “Mantenha a calma e leve dinheiro em espécie: lições sobre o papel único da moeda física em quatro crises e tem como autores Francesca Faella e Alejandro Zamora-Pérez. O estudo analisa a importância do papel-moeda em situações de graves distúrbios sociais, tomando como referência quatro episódios significativos dos últimos anos: a pandemia de COVID-19, a invasão da Ucrânia pela Rússia, a crise da dívida soberana na Grécia e o apagão ibérico de abril de 2025. Em todos os casos verificou-se uma resposta comum: a corrida ao levantamento de notas como forma de proteção por parte dos aforradores.

Dada a sua proximidade temporal e geográfica, o relatório destaca o caso do apagão ibérico. De acordo com o BCE, “em 28 de abril de 2025, pouco depois do meio-dia (hora da Europa Central), a rede elétrica ibérica perdeu o sincronismo e desligou-se da rede principal europeia, causando um apagão quase total em toda a península, afetando mais de 50 milhões de pessoas”. Com a quebra no fornecimento de energia e telecomunicações, os sistemas de pagamento digitais falharam em toda a Península Ibérica. Em Espanha, os pagamentos com cartão caíram entre 41% e 42% face a regiões não afetadas, enquanto o consumo total caiu cerca de 34% nesse dia.

Em Portugal, segundo dados da SIBS – Sociedade Interbancária de Serviços, gestora da rede Multibanco –, registou-se uma quebra de aproximadamente 40% no número de operações face a um dia normal. Já o Banco de Portugal, através do Indicador Diário de Atividade Económica, apontou para uma queda de 14,8% da atividade económica no dia 28 de abril de 2025.

Nesse contexto, o dinheiro físico tornou-se a única forma de pagamento disponível em muitas situações, “já que as notas existentes permaneceram perfeitamente funcionais mesmo quando os sistemas digitais e muitos caixas automáticos estavam inoperacionais”.

Segundo os especialistas do BCE, “este episódio ilustra a dupla função do dinheiro – como método de pagamento offline resiliente e também como reserva tangível de valor – durante uma falha estrutural grave, conforme confirmado pela análise causal”. Em Espanha, os levantamentos em caixas automáticos caíram nas áreas afetadas pelo apagão, o que sugere que a população recorreu sobretudo às reservas de dinheiro que já tinha em casa. Dados de um inquérito do BCE revelam que 39% dos espanhóis mantêm reservas de notas em casa como medida de precaução.

Em Portugal, os dados mais recentes do Inquérito à Literacia Financeira da População Portuguesa (2023) mostram que 7,7% dos inquiridos admitiram ter dinheiro guardado em casa.

“O apagão ibérico destacou o dinheiro físico como método de pagamento indispensável quando as infraestruturas digitais falham e também como instrumento de tranquilidade pública, estendendo a sua influência até áreas não diretamente afetadas pelo choque inicial”, conclui o estudo. E acrescenta: “Em momentos de stresse agudo, o público recorre frequentemente à moeda física como reserva de valor fiável e meio de pagamento resiliente, sublinhando o seu papel crucial para lá da conveniência transacional do dia a dia.”

O estudo refere ainda que bancos centrais, ministérios das Finanças e autoridades de proteção civil em vários países recomendam agora que as famílias mantenham um saldo de numerário disponível para vários dias de despesas essenciais. Na Holanda, Áustria e Finlândia, por exemplo, aconselha-se a guarda de entre 70 e 100 euros por cada membro da família, ou o equivalente a três dias de necessidades básicas.

Alguns países, como a Finlândia, estão mesmo a explorar soluções de caixas automáticos “à prova de falhas” para garantir o acesso ao numerário em situações de colapso digital. “Isto está alinhado com a perceção de que o dinheiro físico não serve apenas para as necessidades individuais, mas também para reforçar a resiliência sistémica em momentos de crise.”

Subscrever Newsletter

Mantenha-se atualizado sobre tudo o que se passa no sistema financeiro.

Ao subscrever aceito a Política de Privacidade