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Claudia Buch alerta para aumento do crédito malparado nos bancos europeus

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Na altura em que se celebram 10 anos de união bancária, a presidente do Conselho de Supervisão do BCE chama a atenção para as conquistas alcançadas, mas sobretudo para os desafios que os bancos têm de enfrentar a nível geopolítico, cibernético e climático.

04 Mar 2025 - 11:08

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Claudia Buch, presidente do Conselho de Supervisão do BCE | Foto: BCE/ Adrian Petty

Claudia Buch, presidente do Conselho de Supervisão do BCE | Foto: BCE/ Adrian Petty

De acordo com os últimos dados de supervisão do Banco Central Europeu (BCE), o crédito malparado na Europa registou mínimos entre o final de 2022 e início de 2023 (2,24%), mas tem vindo a aumentar ligeiramente, situando-se nos 2,31% no final de 2024. “O nível de crédito malparado ainda é baixo. Mas já estamos a assistir a ligeiras deteriorações”, alerta Claudia Buch, presidente do Conselho de Supervisão do BCE, no seu discurso de comemoração dos 10 anos de união bancária, assinalados nesta segunda-feira. Porém, este aumento está a verificar-se sobretudo nos países mais desenvolvidos. “Curiosamente [está a aumentar] não nos países onde os bancos registaram elevados incumprimentos de empréstimos no passado. O crédito malparado está a aumentar na Alemanha e na Áustria e, em menor grau, em França. Em todos os setores, o imobiliário comercial e as pequenas e médias empresas são particularmente afetados”, acrescenta.

O malparado é, para a supervisora, um dos desafios que os bancos têm de enfrentar no futuro, bem como um contexto geopolítico em acelerada mudança, o aumento dos riscos cibernéticos e também os riscos decorrentes das alterações climáticas. “A próxima década trará novos desafios a toda a Europa. Os riscos geopolíticos aumentaram. A transição energética, a digitalização e a alteração dos padrões do comércio mundial exigem ajustamentos estruturais na economia real e, em última análise, refletir-se-ão também nos balanços dos bancos”, sublinha.

Claudia Buch salienta que cabe aos decisores políticos, às autoridades de supervisão e aos bancos tornar o setor bancário europeu preparado para o futuro, defendendo que é preciso escolher “as políticas necessárias para reforçar a união bancária e o mercado interno e para um quadro regulamentar e de supervisão forte que proteja a resiliência dos bancos”.

Supervisão trouxe resiliência

No seu discurso, Buch fez também uma retrospetiva dos ganhos que a união bancária trouxe ao sistema financeiro europeu. “Os bancos na Europa estão mais estáveis e mais bem capitalizados do que há 10 anos, quando foi criada a união bancária, e as exposições não produtivas diminuíram significativamente. Atualmente, dispomos de uma supervisão bancária europeia que pode aplicar normas comuns, avaliar os riscos de forma coerente e tomar medidas quando os bancos revelam vulnerabilidades. O Mecanismo Único de Resolução – o segundo pilar da união bancária – garante que as tensões no setor bancário podem ser geridas com fundos fornecidos pelo setor, sem recorrer ao dinheiro dos contribuintes”, reforçou.

Referiu que a estabilidade recente resultou de melhorias na regulamentação e supervisão pelo BCE e de avanços na gestão de riscos pelos bancos. Além disso, choques como o da pandemia e da crise energética foram mitigados por medidas políticas que estabilizaram as finanças de famílias e empresas, evitando insolvências e perdas de crédito.

“Um setor financeiro estável beneficia a economia real. Os bancos com uma melhor posição de capital podem conceder mais empréstimos e apoiar os seus clientes em tempos difíceis. Isto é particularmente visível nos países mais afetados pelas crises financeira e da dívida soberana. Nesses países, os elevados níveis de crédito malparado e a baixa capitalização enfraqueceram os bancos e o crescimento económico. Atualmente, os bancos estão mais bem capitalizados e em melhor posição para promover o crescimento”, referiu. E deu como exemplo o caminho feito por alguns países, incluindo Portugal: “Na Grécia, por exemplo, o nível de exposições não produtivas caiu de quase 50% em 2016 para pouco mais de 3%, com um crescimento económico de 2,4%, o que é muito superior à média da UE de cerca de 1%. A dinâmica económica é igualmente positiva em Espanha, Irlanda, Portugal e Chipre”.

Atenção aos ataques informáticos

Claudia Buch pôs grande tónica na necessidade de os bancos acautelarem os riscos operacionais, nomeadamente os que podem decorrer de ataques cibernéticos, tendo em conta o alto desenvolvimento da tecnologia. “A resiliência financeira não é tudo. Os bancos podem estar muito bem capitalizados e ser muito líquidos, mas a sua existência pode ser ameaçada por um ciberataque grave”, referiu.

Deu conta de que o número de ciberataques a bancos europeus quase duplicou entre 2022 e 2024, enquanto a complexidade e o número de ataques bem-sucedidos aumentaram. E alertou para a necessidade de os bancos investirem na sua resiliência informática a longo prazo. “Quando as instituições de crédito investem muito pouco nos seus sistemas informáticos, podem apresentar bons resultados financeiros no curto prazo, mas tal pode prejudicar a sua competitividade a longo prazo”, sublinhou.

Na sua perspetiva, a chave para gerir os riscos geopolíticos que trazem instabilidade, os riscos climáticos que desafiam a qualidade das carteiras de crédito ou os riscos tecnológicos passa também por manter uma supervisão e regulamentação adequadas. “A supervisão e a regulamentação criam um quadro para garantir que a concorrência não conduza a riscos excessivos, para que os depositantes sejam protegidos e para que o setor financeiro possa contribuir de forma sustentável para o crescimento e a prosperidade”, referiu.

Acrescentando que “a desregulamentação e uma menor resistência acabariam por enfraquecer a estabilidade e o crescimento. Precisamos de bancos bem capitalizados e com sistemas de gestão de risco sólidos – é assim que os bancos podem continuar a ser parceiros fortes da economia real. O debate sobre a competitividade não deve ser utilizado como pretexto para diluir a regulamentação”.

 

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