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Como o BCE está a utilizar a Inteligência Artificial para supervisionar todos os bancos europeus

Pedro Machado revela como o Delphi, o Medusa, o Heimdall e o Navi ajudam o supervisor a fiscalizar a informação produzida pelas instituições financeiras

14 Out 2025 - 17:17

4 min leitura

Pedro Machado | Foto: BCE

Pedro Machado | Foto: BCE

“Os bancos estão a usar cada vez mais Inteligência Artificial (IA) para redigir o que nos enviam. Os supervisores estão a usar cada vez mais IA para os fiscalizar. Se não tivermos cuidado, podemos acabar com IA a avaliar a própria IA, enquanto as realidades subjacentes – incluindo os riscos – permanecem ocultas.”

O alerta foi deixado por Pedro Machado, membro do Conselho de Supervisão do Banco Central Europeu (BCE), durante um evento realizado nesta terça-feira, no âmbito do décimo aniversário do quadro de ética e conduta do Banco de Portugal, que contou com a presença de vários elementos da instituição.

O responsável do BCE fez uma resenha de como o supervisor europeu está a utilizar a IA para reforçar a fiscalização do sistema bancário, exemplificando com alguns dos instrumentos criados para lidar com os milhares de milhões de dados que é obrigado a analisar.

Entre esses instrumentos está o Delphi, um sistema que permite a deteção precoce de riscos emergentes para os bancos do Mecanismo Único de Supervisão (SSM) e para o setor bancário em geral.
“Utilizando recursos de linguagem, o Delphi integra indicadores de mercado e informações provenientes das redes e dos meios de comunicação social num único painel web. Isso permite que os supervisores compreendam, em tempo real, a evolução dos riscos que afetam cada banco”, explicou Pedro Machado.

Outra ferramenta é o Medusa, que funciona como um ponto de contacto único para as diversas partes interessadas que trabalham em constatações e medidas de supervisão. O sistema permite que inspetores e supervisores acedam facilmente a documentos relevantes, utilizando funcionalidades inteligentes de pesquisa e de elaboração de relatórios, bem como ferramentas de visualização e análise estatística.

Existe ainda o Heimdall, um instrumento que apoia as avaliações de adequação e idoneidade dos quadros bancários, lendo os questionários enviados pelos bancos, traduzindo-os quando necessário e destacando as matérias relevantes para revisão.
“O Heimdall não decide; prepara o terreno para que os supervisores se possam concentrar nos casos mais complexos e aplicar o seu juízo onde este for necessário”, sublinhou o responsável do BCE.

O Navi é outro sistema inovador, que visualiza as relações de propriedade e de financiamento entre grupos financeiros. Quando há riscos associados a sociedades em cadeia ou a relações cruzadas entre grupos, o Navi apresenta, em formato visual, as potenciais vulnerabilidades escondidas.

Há ainda o Agora, um vasto centro de dados que reúne, num único local, uma quantidade imensa de informação.
“Isto significa que um supervisor pode combinar diferentes conjuntos de dados sem precisar de consultar vários sistemas. Em breve, o acesso em linguagem natural a este repositório permitirá que os supervisores façam perguntas em inglês simples e recebam respostas fiáveis e fundamentadas”, adiantou Pedro Machado.

Contudo, para o membro do Conselho de Supervisão do BCE, nem tudo são vantagens no recurso à IA. Existem riscos que não podem ser ignorados nem subestimados.
“Os grandes modelos de linguagem atuais podem produzir respostas fluentes, seguras – e erradas. Em supervisão, ‘errado, mas seguro’ é absolutamente perigoso”, alertou.

Pedro Machado destacou também os riscos cibernéticos e operacionais associados ao avanço tecnológico.
“A IA pode ajudar os defensores, mas também os invasores. A engenharia social individualizada, a geração de código mais rápida e os deepfakes significam que o nível de controlo precisa de ser constantemente elevado.”

Em conclusão, o responsável defendeu que “o papel da ética e da conduta nas instituições públicas e na supervisão financeira é, por isso, mais vital do que nunca”.
E acrescentou: “O futuro da supervisão não será feito de máquinas a supervisionar bancos, mas de humanos a supervisionar de forma mais eficaz – apoiados por máquinas – com mais tempo para se dedicarem a temas onde agregamos mais valor.”

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