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Dois anos dourados para a banca europeia
A agência de notação financeira Standard & Poor’s considera que 2025 e 2026 serão bons anos para as instituições financeiras, mas alerta para os riscos geopolíticos e para a tendência de aumento da tributação sobre o setor.
18 Out 2025 - 08:45
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Uma análise à banca europeia realizada pela Standard & Poor’s, uma das maiores agências de rating, conclui que “os bancos europeus estão a caminho de um forte 2025 e de um sólido 2026”. O relatório, publicado na passada sexta-feira, refere que “o setor bancário europeu continua diversificado, moldado por influências nacionais. Ainda assim, a maioria dos bancos apresenta balanços sólidos e lucros sustentáveis. Isto dá-lhes flexibilidade para optarem por maiores distribuições aos acionistas ou recompras de ações, aumentarem o investimento ou intensificarem a atividade de fusões e aquisições”.
O estudo destaca que “o rendimento líquido de juros (NII) continua a ser o principal ponto de divergência. Representa cerca de 60% do rendimento total dos bancos da União Europeia (UE), com diferenças significativas entre jurisdições. Para muitos bancos europeus, a transmissão das reduções das taxas de juro de política monetária deverá continuar a pressionar as margens nos próximos trimestres, e as tendências de crescimento do crédito são mistas”.
A S&P adianta que o crescimento da procura de crédito é mais forte nas economias do sul da Europa, que estão a registar um crescimento mais rápido do que as restantes.
“O rendimento não proveniente de juros continua a ser um complemento valioso. A volatilidade e a atividade de cobertura das empresas sustentaram os lucros na primeira metade de 2025, com muitos bancos a beneficiarem do aumento das comissões provenientes dos serviços de gestão de fortunas, investimentos e seguros. A migração contínua dos depositantes para produtos de investimento apoiou esta tendência, sem prejudicar o crescimento global dos depósitos”, indica o estudo.
A S&P dá exemplos de operações de concentração e aquisição que estão em curso, nomeadamente nos países nórdicos. É o caso, por exemplo, do Swedbank, que anunciou recentemente as aquisições da EnterCard — especializada em crédito ao consumo através de cartões de crédito — e da Stabelo, focada em hipotecas digitais.
Além disso, o DNB concluiu a aquisição da Carnegie Holding, que opera nas áreas de gestão de fortunas e banca de investimento. A bancassurance está cada vez mais em voga, sendo a aquisição pendente da Ethniki Insurance pelo Piraeus Bank um exemplo notável.
A qualidade dos ativos mantém-se, em geral, robusta, com exceção de alguns aumentos pontuais nas provisões associadas à exposição ao setor imobiliário comercial (sobretudo escritórios). Este é particularmente o caso de alguns bancos austríacos, do HSBC e do Standard Chartered em Hong Kong, e do Deutsche Bank nos Estados Unidos e na Europa. A qualidade dos ativos não se deteriorou de forma significativa, e os bancos não esperam que isso mude a curto prazo.
O ambiente de financiamento continua altamente favorável em todo o espectro de passivos. Os depósitos continuam a aumentar e, em alguns casos, estão a superar o crescimento do crédito.
É o caso português: esta semana, o presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB) afirmou que “o rácio de transformação de depósitos em crédito tem sido inferior a um, com grande parte dos depósitos a ir para excesso de liquidez”. Vítor Bento, que falava na 3.ª Convenção da Associação Nacional dos Intermediários de Crédito Autorizados (ANICA), acrescentou ainda que a procura de crédito em Portugal “continua muito modesta”.
A S&P alerta para os riscos geopolíticos e comerciais que “permanecem elevados”. “Novas alterações de política poderão desafiar o nosso cenário económico de base e as condições dos mercados financeiros. Quaisquer mudanças abruptas nas condições ou choques macrofinanceiros afetariam de forma desproporcionada os bancos com capitais mais frágeis ou modelos de negócio considerados problemáticos”, refere o estudo.
Tentação tributária
Outro alerta vai para a pressão que vários governos enfrentam para reduzir os seus défices orçamentais e para o surgimento de uma “tentação tributária” sobre o setor financeiro.
“Vários governos europeus estão sob pressão para reduzir os seus défices orçamentais. Nove países estão atualmente sujeitos ao procedimento por défice excessivo da UE, incluindo a França, onde o governo continua sem apoio para o seu plano de consolidação, e a perspetiva do rating soberano é negativa”, adianta o estudo da S&P.
“O governo do Reino Unido deverá aumentar os impostos adicionais no orçamento de outono. Embora as notações dos bancos não estejam atualmente limitadas pela notação soberana — como é o caso de França — a incerteza pode minar a confiança das empresas, das famílias e dos mercados, aumentando assim os custos de financiamento para os bancos”, refere a agência.
“Posições orçamentais apertadas, conveniência política e o regresso dos bancos a uma forte rentabilidade tornam-nos alvos atrativos para a geração de receitas governamentais”, afirma a S&P, que dá como exemplos o “Reino Unido, onde um grupo de reflexão defendeu um imposto sobre os lucros extraordinários obtidos com a flexibilização quantitativa; Itália, que prorrogou a proibição da utilização de ativos fiscais diferidos; a Polónia, que aumentou a taxa de imposto sobre as empresas de 19% para 20%; e a Áustria, que elevou a contribuição especial para 2025 e 2026”.
“Outros países poderão seguir o mesmo caminho”, alerta a agência.
Parece ser o caso de Portugal, onde o ministro das Finanças já afirmou que vai rever a tributação sobre a banca, depois de o Tribunal Constitucional ter considerado inconstitucional o imposto adicional de solidariedade lançado por António Costa em 2020 sobre o setor bancário, destinado a financiar a Segurança Social durante a pandemia. “Temos de devolver 200 milhões à banca”, disse Joaquim Miranda Sarmento, por ocasião da apresentação do Orçamento do Estado para 2026, acrescentando que isso iria prejudicar a execução orçamental. Para 2026, o ministro das Finanças manteve a contribuição sobre o setor bancário criada pelo governo de José Sócrates em 2011.
No documento, a S&P refere, a propósito da tributação sobre os bancos, que “os impostos sobre os bancos raramente influenciam diretamente as nossas notações, pois representam apenas um encargo adicional marginal. No entanto, enfraquecem a rentabilidade e a atratividade para os investidores dos bancos afetados, o que é relevante quando avaliamos o seu acesso a capital próprio adicional”.
Stablecoins e o euro digital
“Na sequência da Lei GENIUS, a adoção de stablecoins poderá acelerar nos Estados Unidos. Como a autonomia estratégica continua a ser um dos princípios orientadores da política da União Europeia, as stablecoins denominadas em dólares norte-americanos poderão representar um risco caso sejam adotadas globalmente”, alerta o estudo.
Para a S&P, “na Europa, também é provável uma aceleração na adoção de stablecoins, embora o Banco Central Europeu (BCE) continue a ser um forte defensor do projeto do euro digital. Além disso, nove bancos europeus anunciaram recentemente a intenção de lançar uma stablecoin em euros na segunda metade de 2026, regulamentada ao abrigo do Regulamento dos Mercados de Criptoativos (MiCA) da UE. Paralelamente, dez dos principais bancos globais estão a colaborar na criação de ativos baseados em blockchain indexados às moedas do G7.
Dito isto, o BCE e o Banco de Inglaterra mantêm uma postura cautelosa quanto à adoção de stablecoins, e a procura por estes ativos continua incerta.”
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