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Estudo da Católica e Doutor Finanças mostra que 44% dos portugueses já perdeu dinheiro com investimentos

61% dos portugueses não investe as suas poupanças e 37% admite não as ter. 'Chief education officer' do Doutor Finanças realça educação como forma de combater desinvestimento.

03 Out 2025 - 06:26

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Foto: Unsplash/Ibrahim Boran

Foto: Unsplash/Ibrahim Boran

O Doutor Finanças e a Universidade Católica Portuguesa lançam o Barómetro dos Hábitos de Investimento dos Portugueses, que concluiu mostra que 44% dos portugueses já perdeu dinheiro em investimentos. O perfil conservador dos portugueses no que toca ao dinheiro e ao investimento “tem raízes culturais e históricas profundas”, segundo explica o ‘chief education officer’ do Doutor Finanças, Sérgio Cardoso, ao Jornal PT50, e é reforçado pela “experiência de perda”.

Sérgio Cardoso recorda ainda que “Portugal é um país marcado por crises económicas recorrentes, instabilidade e uma tradição de valorização da poupança como proteção. O medo de perder o que se conquistou, aliado à falta de exemplos positivos de investimento e à escassa educação financeira, faz com que a segurança seja sempre privilegiada”. O estudo desenvolvido sublinha que as várias tendências dos portugueses reforçam esta imagem conservadora e cautelosa na hora de canalizar as poupanças – quando as há. “A aversão à perda supera claramente a ambição de ganho”, conclui o estudo.

Outro dado que reforça o perfil conservador dos investidores prende-se com as decisões FOMO (‘fear of missing out’). “A esmagadora maioria (80%) dos investidores inquiridos afirma não tomar decisões influenciadas pelo medo de ficar de fora”, revela a empresa, concluindo que “esta postura reflete um comportamento racional e alinha-se com o perfil conservador e de aversão ao risco dominantemente identificado no estudo”.

Baixa tolerância ao risco justifica pouco investimento em criptoativos

Entre os inquiridos que investem, a tolerância ao risco varia, com um pendor para o conservadorismo, assumido por 49%. 41% dizem ter uma tolerância moderada e apenas 6% dizem ser “agressivos”. A fraca percentagem que se diz agressiva justifica a “reduzida exposição a ativos voláteis, como ações ou criptomoedas”, indica o estudo, que mostra que apenas 10% dos investidores detém criptoativos.

Por sua vez, os 41% moderados explicam “a abertura a fundos ou PPR, mantendo uma abordagem cautelosa”. Os fundos e os PPR são produtos em que 22% e 38%, respetivamente, dos inquiridos já investiu, de acordo com os dados divulgados. A maioria conservadora está naturalmente ligada a produtos como depósitos a prazo e Certificados de Aforro, onde 49% e 35% dos investidores, respetivamente, já colocou dinheiro.

Sérgio Cardoso nota que, ainda que o interesse em criptomoedas seja “residual”, este pode crescer, “especialmente entre os mais jovens e os que procuram diversificar”. “O crescimento do interesse dependerá muito da evolução da regulação, da estabilidade dos mercados e da capacidade de explicar estes ativos de forma simples e transparente”, acredita.

A regulação em si, admite o ‘chief education officer’, pode ajudar a reduzir o receio e a desconfiança, mas “não será o suficiente por si só”. “A legislação é um passo importante, mas terá de ser acompanhada por um esforço de educação e esclarecimento para que os investidores se sintam confortáveis a dar esse passo”, defende.

Questionado sobre se a urgência está mais do lado da literacia ou da adequação dos produtos ao perfil dos investidores, Sérgio Cardoso reitera que “a educação financeira é, sem dúvida, o ponto mais urgente”. “As decisões não são tomadas por ausência de soluções. Há produtos adequados aos diferentes perfis de investimento, mas sem literacia financeira os portugueses continuarão a privilegiar a segurança absoluta e a evitar qualquer exposição ao risco”, argumenta.

Apesar da necessidade de mais educação, 78% dos inquiridos “dizem conhecer ou conhecer bem os produtos em que investem”, com apenas 15% a admitir um nível de conhecimento fraco sobre finanças pessoais – 5% autoavalia-se em 1 e 10% em 2, numa escala de 1 a 5. Em relação a isto, Sérgio Cardoso considera que, “apesar de muitos se autoavaliarem com um conhecimento intermédio ou elevado, o barómetro revela que este conhecimento é, muitas vezes, superficial e não se traduz em prática”. A título de exemplo, “saber o que é a diversificação não significa aplicá-la e isso está visível no barómetro”, refere. “A perceção de conhecimento nem sempre corresponde à capacidade real de investir de forma informada e diversificada”, alerta.

No que diz respeito às fontes de informação sobre investimentos, “os resultados mostram que os bancos são a fonte de informação predominante para investidores”, com 52% a recorrerem a estes. Em segundo lugar aparecem os sites especializados, com 31%, e em terceiros os amigos ou familiares, com 21%. Já os ‘influencers’ de finanças pessoais são usados para fins informativos por apenas 10% dos inquiridos que investem e as redes sociais por 19%.

A utilização de ‘robo-advisors’ foi confirmada por apenas 3% dos investidores, “refletindo uma penetração mínima no mercado português”, nota o estudo. “A forte preferência por canais tradicionais e por produtos de baixo risco revela uma desconfiança em relação a soluções automatizadas e digitais”, conclui.

No que diz respeito às plataformas de investimento utilizadas, a banca tradicional domina, com 50% a utilizar este meio. Contudo, há uma “tendência digital”, com as aplicações a surgirem em segundo lugar, com 20%, e as plataformas em terceiro, com 16%. O recurso a “canais institucionais comerciais e formais” reflete, segundo o barómetro, o “perfil cauteloso e dependente de aconselhamento profissional que caracteriza este grupo de investidores”.

37% não investe por “ausência de poupanças”

Os resultados gerais do estudo indicam que 61% dos inquiridos não aplica as suas poupanças em produtos de investimento, “ou porque não dispõem de poupanças para investir ou por privilegiarem formas de usar o dinheiro disponível”. 37% aponta a “ausência de poupanças” como o motivo para não investir e 27% prefere poupar sem investir. Apenas 10% justifica a ausência de investimentos com o desconhecimento.

O grupo que menos tem tendência a investir são as mulheres e as faixas etárias mais velhas. Também os agregados familiares com rendimentos inferiores têm mais probabilidade de não investir as suas poupanças. Questionado sobre se maiores rendimentos levariam a maior apetite ao risco, Sérgio Cardoso admite que “a maior disponibilidade orçamental pode aumentar a propensão para investir, mas não garante maior atrevimento”. “Sem literacia financeira, o aumento do rendimento tende apenas a aumentar o valor investido em produtos tradicionais, não necessariamente a diversificação ou o risco”, avisa.

Nos escalões de rendimento até aos 1500 euros, “a esmagadora maioria aplica menos de 5% do seu rendimento”. “À medida que o rendimento sobe, a capacidade de poupança aumenta significativamente. No escalão acima de 3000 euros, verifica-se uma mudança notável: 11% dos inquiridos investem mais de 20% do seu rendimento, tornando esta a segunda categoria mais representativa”, salienta.

Entre os objetivos dos investimentos, 45% revela que pretende ter ganhos para o futuro, com planos como a reforma. Já 23% afirmam querer preservar o capital e 14% e 11% indicam objetivos de curto prazo, como comprar casa ou carro, por exemplo.

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