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Riscos geopolíticos levam bancos a cortar o crédito às empresas
Um estudo do Banco Central Europeu, realizado a partir da invasão russa da Ucrânia, mostra como as instituições financeiras reagem com cortes severos na concessão de crédito.
06 Nov 2025 - 07:15
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O risco geopolítico, que passará a integrar os testes de stress a realizar pelos supervisores europeus em 2026, afeta de forma decisiva as opções de concessão de crédito dos bancos e tem uma influência direta nas estratégias de investimento e de contratação das empresas.
Um estudo do Banco Central Europeu (BCE), da autoria de Pauline Avril, Peter McQuade, Cosimo Pancaro e Alessio Reghezza, divulgado esta semana conclui que “o risco geopolítico pode ter um impacto significativo na oferta de crédito bancário, com efeitos indiretos acentuados sobre as empresas. A invasão russa da Ucrânia forneceu uma ilustração clara de como eventos geopolíticos adversos podem, rapidamente, alterar as perceções de risco e aumentar a incerteza, levando os bancos a restringir a concessão de crédito”.
Intitulado “Risco geopolítico, concessão de crédito bancário e efeitos reais nas empresas: evidência a partir da invasão russa da Ucrânia”, o trabalho analisou um conjunto de empréstimos concedidos antes e depois do início do conflito.
As conclusões apontam que “os bancos com maior exposição ao aumento do risco geopolítico resultante da invasão russa da Ucrânia reduziram mais a oferta de crédito às empresas não financeiras do que os seus pares — tanto no montante emprestado como no número de relações de crédito —, uma vez que esses bancos revelaram também menor propensão para estabelecer novas relações de crédito”.
Os bancos mais expostos a esse risco geopolítico optaram por aumentar as suas provisões para perdas com empréstimos, embora não tenham registado deterioração na qualidade dos seus ativos.
Os efeitos sobre a oferta de crédito bancário foram, contudo, atenuados no caso dos bancos com maiores reservas de capital, o que sugere que uma capitalização robusta pode mitigar os efeitos adversos de acontecimentos geopolíticos.
Os bancos restringiram mais o crédito aos setores dependentes de matérias-primas ou componentes provenientes de países alinhados com a Rússia (como Angola, Moçambique, Azerbaijão ou África do Sul), o que indica uma preocupação com as vulnerabilidades das cadeias de abastecimento das empresas.
De forma relacionada, os bancos de maior dimensão – que, tipicamente, têm maior exposição a empresas exportadoras – reduziram mais o crédito do que os bancos de menor dimensão, que tendem a servir empresas com foco no mercado interno.
Os efeitos sobre o comportamento de concessão de crédito dos bancos tiveram consequências económicas reais. As empresas dependentes de bancos com maior exposição ao risco geopolítico não conseguiram substituir os empréstimos, uma vez que não puderam compensar a redução do crédito através de outras fontes de financiamento bancário.
Isto conduziu a impactos económicos concretos, pois a contração da oferta de crédito por parte dos bancos mais expostos teve consequências imediatas para as empresas da área do euro. De facto, as empresas mais dependentes dessas instituições reduziram tanto o investimento como o emprego.
Para os autores do estudo, “a análise destas reações fornece informações valiosas para os decisores políticos coordenarem respostas adequadas, como medidas macroprudenciais direcionadas ou programas de apoio ao crédito, de modo a mitigar o impacto económico mais amplo das crises geopolíticas”.
Acrescentam ainda que
“compreender estas dinâmicas é essencial para avaliar os riscos sistémicos e reforçar a resiliência do setor bancário da área do euro”.
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