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Carta aberta de 16 bancos contra o euro digital
Fundadores da European Payments Initiative (EPI) pedem às autoridades europeias que apoiem projetos privados de pagamentos em vez da versão digital da moeda única europeia
05 Nov 2025 - 07:15
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Foto: Adobe Stock/luaeva
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Quatro dias após ter terminado a fase de preparação para o euro digital e depois do Banco Central Europeu (BCE) ter divulgado uma série de relatórios que apoiam esta decisão e delineiam iniciativas até à implementação definitiva da versão digital da moeda única, prevista para 2029, começam a surgir as primeiras vozes de contestação à iniciativa europeia.
Na passada terça-feira, uma carta aberta, subscrita por 16 bancos fundadores da European Payments Initiative (EPI), apelou às autoridades europeias para que apoiem mais projetos privados, como a carteira digital Wero e outras soluções eletrónicas, em vez do euro digital de retalho, que corre o risco de não atingir os seus objetivos.
As instituições signatárias, maioritariamente bancos alemães (Deutsche Bank, ING Alemanha, DZ Bank), franceses (BNP Paribas, Société Générale, Crédit Agricole e BPCE, que detém o Novo Banco), belgas (Argenta, Breda Bank) e dos Países Baixos (ING, Rabobank, ABN Amro), defendem a construção de um sistema privado de pagamentos, que utiliza a moeda única europeia mas é gerido por instituições privadas.
Segundo os bancos críticos do euro digital, os “membros da EPI representam, em conjunto, mais de 75% dos clientes de serviços bancários de retalho nos três mercados de lançamento: Bélgica, França e Alemanha. Mais países serão adicionados em breve, e estamos a trabalhar arduamente para garantir que o Wero — a solução de carteira digital da EPI — esteja disponível em toda a Europa e noutros continentes”.
Disponível desde o segundo semestre de 2024, a solução de pagamentos Wero conta com mais de 43,5 milhões de utilizadores registados na Bélgica, França e Alemanha. No primeiro ano de atividade, a Wero terá facilitado mais de 7,5 mil milhões de euros em pagamentos.
Atualmente, a EPI conta com 25 membros, incluindo 14 novos membros não acionistas. Em 2026, dois novos países vão juntar-se à iniciativa: Luxemburgo, a partir de junho, e os Países Baixos. A Áustria também demonstrou interesse. A EPI está ainda a preparar-se para adicionar novos recursos ao Wero, com o lançamento da sua solução de pagamentos online para o retalho, primeiro na Alemanha no final de 2025 e, posteriormente, na Bélgica e França, por volta de 2026.
Recorde-se que o BCE prevê que os custos de produção e emissão do euro digital, incluindo os componentes desenvolvidos internamente, rondem 1,3 mil milhões de euros até à primeira emissão, prevista para 2029. As despesas operacionais anuais subsequentes estão projetadas em cerca de 320 milhões de euros por ano a partir de 2029. O Eurosistema assumirá estes custos, tal como faz com a produção e emissão de notas de euro — que, tal como o euro digital, são consideradas um bem público.
No âmbito da fase de preparação do euro digital, o BCE realizou um conjunto de entrevistas nos 20 países da área do euro, incluindo aos chamados “consumidores vulneráveis”, ou seja, aqueles com capacidade limitada para maximizar o bem-estar pessoal, dificuldade em obter ou assimilar informação, menor capacidade de escolher produtos adequados e maior suscetibilidade a determinadas práticas de marketing.
Foram realizadas pelo menos oito entrevistas aprofundadas com consumidores vulneráveis em cada um dos 20 países. Metade das entrevistas ocorreu online, enquanto a outra metade foi presencial.
As entrevistas analisaram preferências de pagamento, fatores que influenciam a adoção e funcionalidades desejadas em futuros métodos de pagamento. Os consumidores vulneráveis referiram utilizar uma combinação de métodos, principalmente cartões de débito/crédito, numerário e aplicações digitais.
Em todos os métodos de pagamento, os consumidores vulneráveis valorizaram segurança, facilidade de utilização, fiabilidade e controlo, bem como aceitação em toda a área do euro, acompanhamento em tempo real das despesas e uma experiência simples e intuitiva.
Os principais problemas apontados incluíram roubo, perda e fraude, questões de disponibilidade e aceitação (como a recusa ocasional de pagamentos em numerário ou cartão por parte de comerciantes), dificuldades de uso (como o tamanho reduzido da fonte nas apps bancárias) e falhas técnicas ou de sistema.
Os consumidores vulneráveis identificaram características que tornariam um novo método de pagamento mais atrativo, incluindo aceitação universal entre comerciantes, cobertura a nível europeu e funcionalidade offline em caso de fraca conectividade.
O método de pagamento ideal deveria ser caracterizado por maior segurança, rapidez, simplicidade e intuitividade. Os participantes mais velhos ou com menos competências tecnológicas referiram ainda a ausência de comissões e a facilidade de monitorização das despesas.
Embora satisfeitos com os métodos atuais, os consumidores vulneráveis manifestaram interesse em novos métodos de pagamento, especialmente se resolvessem os problemas identificados, incorporando as funcionalidades referidas. A influência social, nomeadamente recomendações de amigos e familiares, também desempenhou um papel relevante na disposição para adotar novos métodos de pagamento.
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