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IA é “o escudo e a espada”: Vítor Bento relembra que “inovação e risco caminham juntos”
Vítor Bento acredita que a cibersegurança no setor financeiro depende da cooperação e confiança entre instituições. A IA pode proteger, mas também expõe a riscos, alerta o presidente da APB.
07 Out 2025 - 17:15
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Presidente da APB, Vítor Bento
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Presidente da APB, Vítor Bento
O encerramento da conferência Cibersegurança no Setor Financeiro, organizada pelo Jornal PT50, esteve a cargo do presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), Vítor Bento. Este destacou o potencial da Inteligência Artificial (IA) na defesa contra ataques e na automatização de certas tarefas, mas também alertou para a sua capacidade de alimentar os “agentes maliciosos”. “É o que se pode chamar a dupla face da inovação: o escudo e a espada”, ilustra.
Partindo do princípio de que “a confiança é o maior ativo do setor financeiro”, Vítor Bento apelou a que se possa “transformar a complexidade das ciberameaças numa oportunidade para reforçar a cooperação, para estimular a inovação responsável e, sobretudo, para consolidar a confiança no sistema financeiro”.
Esta dualidade, da inovação e da segurança, tem de ser assegurada porque “inovação e risco caminham juntos”, argumenta. Neste sentido, o líder da APB reitera que “a inovação e ‘compliance’ não são alternativas, são imperativos complementares”.
A luta contra estes riscos dá-se, em parte pela conformidade regulatória, mas também, sublinha Vítor Bento, pela cooperação entre instituições e agentes do setor. “Sem inovação, as instituições financeiras perdem competitividade. Mas sem conformidade regulatória, perdem legitimidade e expõem-se a riscos sistémicos. Conciliar estas duas exigências não é fácil”, admite. “Cabe às instituições financeiras, aos reguladores e às empresas de tecnologia encontrar o equilíbrio certo para garantir a resiliência e confiança, transformando a IA numa aliada para a proteção do sistema financeiro”, acrescenta.
Vítor Bento especifica ainda que o combate à fraude necessita de colaboração entre entidades relevantes no ecossistema digital. Os esquemas fraudulentos tomam hoje a forma de “usurpação de identidade de empresas, instituições ou autoridades, para manipular a vítima de forma a obter um proveito ilegítimo”. “Casos recentes mostram gestores a autorizar transferências depois de ouvirem o que acreditavam ser a voz de um superior hierárquico – quando era apenas uma imitação gerada por IA”, exemplifica.
Assim, defende uma atuação por parte de operadores de telecomunicações, “habilitados para adotar medidas mitigadoras já implementadas noutros países, como a validação da autenticidade de chamadas telefónicas e mensagens SMS antes do encaminhamento, o bloqueio de remetentes fraudulentos e a criação de um registo de remetentes SMS para impedir usos indevidos”.
Por sua vez, “ao nível das plataformas digitais, é fundamental combater a proliferação de sites maliciosos, dotando os motores de pesquisa de instrumentos para não exibirem esses conteúdos e prevenindo que redes sociais difundam anúncios fraudulentos”.
Ainda na ótica dos desafios sobre a cibersegurança, Vítor Bento referiu a interdependência sistémica. “As redes digitais são globais, e os efeitos de um ataque já não ficam confinados a fronteiras ou setores”, avisa. Aqui menciona ainda o recente apagão que se deu na Península Ibérica, “que deixou claro que o funcionamento do setor financeiro depende de infraestruturas críticas como energia e telecomunicações”. Vai mais longe até e afirma que, “hoje, cibersegurança e segurança operacional são duas faces da mesma moeda”.
Os desafios geopolíticos foram também destaque. “Não podemos esquecer que alguns ataques são patrocinados por Estados ou grupos com objetivos políticos e estratégicos”, salienta. Nesta ótica, coloca uma questão: “até que ponto a Europa consegue proteger os seus sistemas financeiros sem depender excessivamente de soluções tecnológicas externas”? Vítor Bento acredita que, neste aspeto, “a cibersegurança cruza-se com a soberania digital e com a própria resiliência democrática”.
Por último, “mas não menos importante”, como aponta o líder da APB, surgem a literacia digital e a financeira. “Um sistema pode ter barreiras robustas, mas se o elo humano for frágil, a vulnerabilidade mantém-se”, alerta. Recorda que “muitos ataques exploram não falhas técnicas, mas falhas de atenção, confiança ou informação. A manipulação psicológica, a chamada engenharia social, continua a ser uma das armas mais eficazes dos criminosos”.
Cooperação e confiança na base da solução
Entre as prioridades definidas pelo presidente da APB surge, em primeiro lugar, a cooperação. “Nenhuma instituição está isolada. A cibersegurança só é eficaz quando existe partilha de informação e coordenação de respostas”, argumenta. Para tal, é necessária cooperação entre bancos, reguladores, autoridades nacionais, mas também com empresas tecnológicas e fornecedores críticos”.
Em segundo lugar, aparece de novo a confiança, acompanhada pela transparência. “A confiança não se constrói apenas com ausência de falhas; constrói-se também com a forma como se responde quando as falhas ocorrem”, defende. Por fim, reforça a ideia da soberania. “A capacidade de proteger o setor financeiro é um fator de credibilidade das democracias e de autonomia da Europa”, sublinha.
Em jeito de conclusão, relembra que o setor financeiro português “é hoje reconhecido como um dos mais maduros em matéria de cibersegurança”, mas, avisa, “isso não nos deve levar à complacência. Os desafios não param. Adaptam-se, reinventam-se e globalizam-se”.
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