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IA em Portugal: Observador ou Protagonista em inovação financeira?

Autor

Por Gonçalo Freire, diretor da Fintech Solutions

12 Fev 2025 - 12:45

5 min leitura

Gonçalo Freire, diretor da Fintech Solutions

Gonçalo Freire, diretor da Fintech Solutions

Portugal pode estar a atravessar um momento decisivo no seu percurso de inovação. De acordo com o Índice Global de Inovação 2024 (GII) da WIPO, Portugal ocupa a 31ª posição, um resultado que reflete tanto os avanços na digitalização e criatividade, como a distância para economias mais ágeis e tecnologicamente avançadas. Países como a Suíça, Suécia e Singapura, que lideram o ranking, conseguiram estabelecer ecossistemas financeiros e tecnológicos onde a inovação não só acontece, como é rapidamente adotada e escalada. Em Portugal, apesar de haver iniciativas interessantes e um setor fintech emergente, a transição para um modelo mais competitivo enfrenta desafios que vão desde infraestruturas bancárias tradicionais à literacia financeira e digital da população.

A Inteligência Artificial (IA) pode ser um dos fatores que ajudará a redefinir esta dinâmica. A sua aplicação no setor financeiro está a transformar a forma como os serviços são prestados, promovendo maior eficiência, personalização e segurança. Países mais avançados na adoção destas tecnologias já mostram resultados positivos na automatização da gestão financeira, na digitalização do crédito e na deteção de fraudes em tempo real. Portugal tem a oportunidade de explorar este potencial, mas a velocidade e eficácia da sua adoção dependerão de diversos fatores, incluindo a capacidade de modernizar infraestruturas bancárias, criar um ambiente regulatório flexível e preparar a população para um sistema financeiro cada vez mais digital.

A hiperpersonalização dos serviços financeiros é um dos exemplos de como a IA pode impactar positivamente o setor. Com algoritmos avançados, instituições financeiras conseguem oferecer produtos e recomendações ajustadas ao perfil de cada cliente, uma abordagem que pode contribuir para uma maior inclusão financeira e melhorar a relação entre consumidores, bancos e seguradoras. Noutros países, este conceito está já integrado em muitas soluções digitais, enquanto em Portugal a sua adoção ainda ocorre de forma gradual. Uma implementação mais abrangente poderá beneficiar tanto os clientes, que terão acesso a soluções mais adaptadas às suas necessidades, como os próprios bancos e seguradoras, que conseguirão melhorar a retenção e satisfação dos utilizadores.

Outro conceito que tem vindo a ganhar força internacionalmente é o das finanças autónomas (self-driving money), onde sistemas inteligentes conseguem gerir automaticamente investimentos, poupanças e pagamentos de um utilizador, garantindo maior eficiência e conveniência. Em mercados como os Estados Unidos e Singapura, algumas fintechs já começaram a implementar este modelo, permitindo que clientes otimizem a sua vida financeira sem constante intervenção. Em Portugal, a adoção deste conceito poderá exigir uma maior familiarização da população com serviços bancários digitais e uma melhor integração da IA nos sistemas financeiros já existentes.

Apesar das vantagens associadas à implementação da IA no setor financeiro, existem desafios que não podem ser ignorados. Um dos mais relevantes é a literacia financeira e digital. Segundo um inquérito realizado, em 2023, pela Comissão Europeia e publicado no relatório produzido pelo grupo de reflexão Bruegel “O estado do conhecimento financeiro na União Europeia”, concluiu-se que Portugal é o segundo país da União Europeia (UE) pior classificado em literacia financeira. De acordo com a OCDE, é essencial reforçar a educação financeira para que a população consiga compreender e confiar nos serviços digitais, garantindo que a transição para um sistema financeiro mais automatizado ocorre de forma inclusiva.

No entanto, um dos maiores desafios poderá estar no enquadramento regulatório e na capacidade de adaptação das infraestruturas existentes. Economias como Singapura e Reino Unido têm sido pioneiras na criação de ambientes regulatórios flexíveis, permitindo que fintechs testem soluções inovadoras num contexto seguro e controlado. Portugal, por outro lado, mantém ainda um quadro regulatório tradicional, que pode tornar a adoção de novas tecnologias num processo mais lento. Ajustar a regulação para permitir a experimentação e a adaptação a novos modelos de negócio poderá ser um dos passos necessários para tornar o país mais competitivo no setor financeiro.

Embora a implementação da IA na banca em Portugal exija tempo, investimento e adaptação, é inegável que existem oportunidades significativas para explorar. A transformação digital do setor financeiro está a acontecer a um ritmo acelerado em todo o mundo, e a capacidade do país para acompanhar esta evolução dependerá das decisões estratégicas que forem tomadas nos próximos anos. O potencial para que Portugal se torne um hub de inovação financeira e tecnológica na Europa existe, mas será necessário um esforço conjunto entre instituições financeiras, reguladores, empresas tecnológicas e consumidores para que essa visão se concretize.

 

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