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Queda de depósitos é o maior perigo das ‘stablecoins’ para os bancos americanos
As 'stablecoins' apresentam riscos para os bancos, podendo desviar depósitos e afetar o crédito. Contudo, representam também oportunidades, podendo as instituições financeiras oferecer serviços relacionados e até lançar as suas 'stablecoins'.
20 Ago 2025 - 07:13
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Foto: Pexels/David McBee
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Foto: Pexels/David McBee
O tema dos criptoativos continua na ordem do dia, especialmente depois da aprovação do GENIUS Act nos EUA. De acordo com uma análise da Morningstar DBRS, as ‘stablecoins’, em específico, têm um perigo mais evidente e imediato para as instituições bancárias norte-americanas, que se prende com a possível perda de depósitos para este novo ativo.
A agência de ‘ratings’ acredita que, “com o tempo, as ‘stablecoins’ podem desviar um volume significativo de transações, ou de depósitos ‘core’”. Mais ainda, uma reação em cadeia pode ter impacto no mercado de crédito. Isto é, uma grande transposição de fundos de contas bancárias para ‘stablecoins’, avisa a DBRS, pode restringir a capacidade de concessão de crédito dos bancos.
Contudo, a agência de notação financeira relembra, citando dados do Bank for International Settlements, que o volume de ‘stablecoins’ ainda é “relativamente pequeno”, equivalendo a cerca de 1,5% do total de depósitos nos bancos norte-americanos.
Os consumidores podem vir a optar por usar ‘stablecoins’ privadas no seu dia-a-dia por “conveniência, compensação ou programabilidade”. Esta última característica deriva de estes criptoativos serem considerados “dinheiro programável”, pois podem ser incorporados em ‘smart contracts’ ou redes de ‘blockchain’, o que permite execução automática de operações financeiras. “Quando as condições predefinidas são cumpridas, o contrato executa automaticamente as ações especificadas sem a necessidade de intermediários”, explica a DBRS.
Outra ameaça para os bancos prende-se com o facto de as ‘stablecoins’ contornarem a rede tradicional de pagamentos, o que coloca em perigo as receitas que as instituições bancárias arrecadam em comissões. “Num mercado em que as stablecoins liquidam transações em segundos, em comparação com horas ou dias nas vias de pagamento tradicionais, os bancos correm o risco de perder relevância no processamento de pagamentos de retalho e empresariais”, alerta a DBRS.
Estes criptoativos também já se fazem sentir nos mercados de capital de dívida. A legislação passada nos EUA exige que as empresas que comercializam ‘stablecoins’ possuam ativos de reserva. Isto levou a que o mercado destes criptoativos ganhasse preponderância na titularidade de bilhetes do tesouro de curto prazo norte-americanos.
A título de exemplo, o mercado das ‘stablecoins’ já supera a Suíça e a China em títulos adquiridos e ficou acima de países como o Japão e a Alemanha na sua aquisição, em 2024. Estas compras em larga escala, avisa a DBRS, podem ter impacto nas taxas de juro e a sua “distorção” pode afetar os investimentos dos bancos nestes títulos e, consequentemente, colocar pressão sobre as suas margens financeiras.
Onde podem ficar os bancos no meio desta revolução digital
A DBRS coloca a hipótese de as instituições financeiras capitalizarem com as suas estruturas estáveis e credíveis do ponto de vista regulatório. Assim, podem prestar serviços de custódia para reservas de ‘stablecoins’ e de gestão de bilhetes do Tesouro americanos. Podem ainda ser intermediários entre os emissores destes ativos digitais e o sistema bancário tradicional. Todos os serviços em questão têm o potencial de render receitas de comissões para os bancos, realça a agência de ‘ratings’.
Mais ainda, a regulação aprovada, considera a DBRS, ajuda a proteger o papel das instituições bancárias no sistema financeiro ao equilibrar o ‘playing field’. Algumas entidades estão a ponderar o lançamento da sua própria ‘stablecoin’, de forma a reter os depósitos de clientes e conseguir competir com emissores privados. “Uma ‘stablecoin’ emitida por um banco, totalmente garantida por reservas regulamentadas e integrada nos sistemas de conformidade existentes, poderia servir como uma ferramenta estratégica para se defenderem contra as pressões competitivas”, supõe a agência.
Em última instância, a regulação e a adoção do mercado são o que vai ditar se as ‘stablecoins’ são uma ameaça ou uma oportunidade para os bancos americanos, conclui a DBRS. O enquadramento legal destes ativos, propõe, pode canaliza-los através das instituições bancárias, o que, por sua vez, capta novas receitas e reforça o seu papel central no sistema financeiro americano. “Embora o crescimento do mercado de ‘stablecoins’ foi significativo, o efeito geral sobre o setor bancário levará algum tempo para se manifestar”, salienta.
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