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Saída de bancos americanos de aliança climática “mina confiança pública”

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O êxodo pode criar um dilema aos bancos europeus: serem cautelosos ou aproveitarem para fortalecer a sua posição global rumo a uma economia com emissões líquidas nulas.

15 Jan 2025 - 07:00

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Foto: Freepik

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A saída de seis dos maiores bancos dos Estados Unidos, nas últimas semanas, da Net Zero Banking Alliance (NZBA) está a levantar algumas dúvidas sobre o compromisso destas instituições para com o combate às alterações climáticas.

O êxodo teve início em dezembro passado, com a saída do Goldman Sachs desta iniciativa setorial das Nações Unidas, e prosseguiu com a saída dos bancos Wells Fargo, Citigroup, Bank of America, Morgan Stanley e, o último, JPMorgan. “A saída de grandes bancos norte-americanos evidencia uma falta de consistência e compromisso do setor financeiro para com os esforços globais de neutralidade carbónica”, refere Ana Rodrigues, diretora executiva do Nova SBE Environmental Economics Knowledge Center, ao Jornal PT50. Na sua perspetiva, o impacto desta saída “vai além da redução de financiamento sustentável, ela mina a confiança pública e empresarial na eficácia dessas alianças e questiona a verdadeira intenção do setor financeiro na transição climática”.

O abandono da NZBA por parte destes bancos coincide com a iminente posse do presidente Donald Trump, conhecido pela postura cética em relação às alterações climáticas e crítico de medidas ambientais que possam pôr em causa a economia, sobretudo os setores mais dependentes de combustíveis fósseis. “Apesar de afirmarem que continuarão com iniciativas individuais de sustentabilidade, a ausência de um compromisso coletivo enfraquece a credibilidade da NZBA e de alianças semelhantes. Esta decisão reflete uma fragilidade estrutural nas alianças voluntárias, que são facilmente influenciadas por pressões políticas, particularmente nos Estados Unidos, onde figuras republicanas têm utilizado o discurso anti-woke para atacar políticas climáticas”, explica Ana Rodrigues.

Daniela Lima, gestora de Conhecimento e Formação do BCSD Portugal, reforça que o desafio das alterações climáticas é cada vez mais eminente e que “o papel do setor financeiro é substancial e decisivo” para alavancar a transição para uma economia com zero emissões líquidas (net-zero). “Por isso mesmo, iniciativas como a NZBA são cruciais para impulsionar a colaboração mundial para esse objetivo partilhado, de uma forma estruturada e baseada na ciência climática”, sublinha.

Porém, não desvalorizando o impacto desta iniciativa, Daniela Lima desdramatiza a saída destes bancos da aliança climática, considerando que “não coloca realmente em causa o compromisso do setor financeiro em alcançar as emissões líquidas nulas”, pois “mesmo após esta saída, a NZBA continua a ser a maior aliança climática do setor bancário a nível mundial, e a influência dos seus membros permanece considerável, tendo controlo de aproximadamente 40% dos ativos bancários globais”.

Impacto na banca europeia

Dada a saída massiva dos grandes bancos americanos, restando apenas três bancos pequenos americanos na aliança (Amalgamated Bank, Areti Bank e Climate First Bank), questiona-se de que forma este êxodo pode afetar a estratégia de sustentabilidade dos bancos na Europa. Ana Rodrigues refere que tal “lança uma sombra sobre o compromisso global para com a sustentabilidade” e cria um dilema aos bancos europeus. Nomeadamente, “reforçar o seu compromisso e assumir maior protagonismo global ou adotar uma postura cautelosa para evitar potenciais prejuízos financeiros decorrentes de regulamentações mais exigentes”.

Porém, para a diretora executiva do Nova SBE Environmental Economics Knowledge Center, “as instituições financeiras na Europa podem aproveitar este momento para fortalecer a sua posição, destacando-se como defensores de uma transição climática robusta e alinhada com os princípios ESG”. A chave para isso, defende, “será uma comunicação clara sobre os benefícios financeiros e reputacionais das iniciativas sustentáveis e a implementação de regulamentação mais forte que reduza a dependência de compromissos voluntários”. Contudo, alerta que “o sucesso dessa abordagem dependerá de como os bancos europeus irão gerir o delicado equilíbrio entre a competitividade global e as responsabilidades climáticas, especialmente num contexto onde a confiança em alianças globais está enfraquecida”.

Daniela Lima, por seu lado, confia que na Europa a ambição climática “não está a perder o ritmo, mas sim a ganhar algum momentum”. Ou seja, “apesar de os desafios serem vários, se as empresas e instituições financeiras conseguirem utilizar este momento para estabelecer e priorizar uma estratégia de sustentabilidade integrada com os seus restantes objetivos financeiros, vão ser recompensadas por um melhor desempenho, resiliência e competitividade a longo-prazo”.

Para tal contribui a crescente tendência regulatória no que toca à performance de sustentabilidade empresarial e às práticas de transparência e relato sobre a mesma, em particular no âmbito do Pacto Ecológico Europeu da UE, como é caso da introdução das diretivas Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD) e Corporate Sustainability Due Dilligence Directive (CSDDD). “O setor financeiro é uma importante parte dessa equação e é até um foco particular em algumas dessas normas, como é o caso dos regulamentos da Taxonomia e Sustainable Finance Disclosure Regulation (SFDR)”, sublinha. Recordando que “alguns dos principais efeitos esperados dessa tendência regulatória são exatamente o aumento da ambição climática, da colaboração entre stakeholders e do direcionamento de investimento para atividades económicas sustentáveis, objetivos basilares da NZBA”.

Por isso, a responsável do BCSD sintetiza: “Resta-nos acompanhar o seu progresso nesta altura decisiva”.

 

 

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