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Sobrevalorização de ativos, défices e efeitos das tarifas são as principais ameaças à estabilidade financeira
Relatório do Banco Central Europeu coloca a hipótese de os riscos se concretizarem simultaneamente
26 Nov 2025 - 11:27
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Luís de Guindos, vice-presidente do Banco Central Europeu/Fonte. BCE
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Luís de Guindos, vice-presidente do Banco Central Europeu/Fonte. BCE
A radiografia realizada pelo Banco Central Europeu (BCE) no Relatório de Estabilidade Financeira aponta três ameaças importantes para a estabilidade financeira da zona euro: a sobrevalorização de ativos financeiros nos mercados globais — em particular os relacionados com o setor tecnológico e a Inteligência Artificial (IA) —, a possibilidade de renascerem défices nas contas públicas de vários países devido ao aumento das despesas no setor da Defesa e o efeito de longo prazo que a aplicação de tarifas possa ter no modelo de negócio de diversos setores económicos.
Com o prefácio do vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, que deixará a instituição em maio de 2026, o relatório inclui também duas análises especiais. A primeira discute se as propriedades de ativo de refúgio dos títulos do Tesouro dos EUA e do dólar se alteraram desde a turbulência tarifária de abril e analisa as implicações para a estabilidade financeira da zona euro. A segunda examina o risco sistémico decorrente das ligações entre bancos e intermediários financeiros não bancários.
Para o BCE, “os mercados de ações globais atingiram novos máximos históricos, apesar da volatilidade recente, enquanto os spreads de crédito permanecem comprimidos face aos padrões históricos. O sentimento do mercado pode mudar abruptamente, não apenas se as perspetivas de crescimento se deteriorarem, mas também se os resultados do setor tecnológico — especialmente de empresas associadas à inteligência artificial — não corresponderem às expectativas. As instituições financeiras não bancárias da zona euro provavelmente sofreriam perdas num tal cenário, devido ao tamanho e à concentração das suas exposições aos EUA”.
O maior receio dos especialistas deslocou-se das tensões geopolíticas (sem ainda considerar um eventual acordo entre a Ucrânia e a Rússia) para os efeitos que, a longo prazo, a aplicação de tarifas poderá ter em vários setores económicos, em diferentes regiões do globo. “Apesar da redução das tensões comerciais, o ambiente atual permanece marcado por elevada incerteza e, se a história servir de guia, não se podem descartar novos picos de incerteza da política comercial no futuro”, refere o relatório.
Segundo o BCE, “neste contexto, três principais fontes de risco e vulnerabilidade emergem como centrais para a estabilidade financeira da zona euro. Em primeiro lugar, as avaliações elevadas em mercados de ativos cada vez mais concentrados aumentam o risco de ajustamentos de preços acentuados e correlacionados”, acrescentando que, “caso ocorram, essas quedas repentinas do mercado podem representar desafios para os balanços das instituições não bancárias da zona euro, dada a sua persistente vulnerabilidade em termos de liquidez e alavancagem, aumentando o risco de vendas forçadas que poderiam amplificar o stress do mercado. Os mercados privados opacos também podem ser uma fonte ou um amplificador de correções de mercado”.
Em segundo lugar, o supervisor destaca “os desafios fiscais em algumas economias avançadas, que podem testar a confiança dos investidores, possivelmente desencadeando stress nos mercados de obrigações soberanas”.
Em terceiro lugar, “embora os bancos tenham demonstrado resiliência a choques recentes, a exposição ao risco de crédito no segmento das empresas mais sensíveis às tarifas pode ainda comprometer o desempenho dos empréstimos bancários, enquanto a crescente interligação com instituições não bancárias pode expor vulnerabilidades no financiamento bancário em condições de mercado tensas”.
O receio de uma “tempestade perfeita” não é descartado pelo BCE. “O potencial para que estas vulnerabilidades se materializem simultaneamente, possivelmente amplificando-se mutuamente, aumenta os riscos para a estabilidade financeira da zona euro”.
Analisando mais detalhadamente a qualidade do crédito nas carteiras dos bancos, e apesar de os níveis de crédito malparado (NPL) terem descido ligeiramente no primeiro semestre de 2025, o BCE assinala que “as taxas de incumprimento para empréstimos a pequenas e médias empresas (PME) têm vindo a aumentar de forma consistente nos últimos três anos, em linha com o crescimento das insolvências empresariais. No conjunto, situam-se agora acima dos níveis pré-pandemia”.
Do lado dos particulares, “o crédito ao consumo apresentou sinais de ligeira deterioração na qualidade dos ativos nos últimos trimestres. Isso é evidenciado por um aumento gradual, embora contido, nos índices agregados de incumprimento para empréstimos ao consumo desde o final de 2023”.
“Embora o desemprego agregado permaneça baixo, estes desenvolvimentos, juntamente com a recente desaceleração do crescimento real dos salários, sugerem que um subconjunto de consumidores com rendimentos mais baixos poderá enfrentar restrições financeiras. Tal é particularmente provável se as condições económicas se deteriorarem mais do que o atualmente previsto, podendo levar a uma maior deterioração da qualidade dos ativos nesta carteira de crédito”, conclui o BCE.
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