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6 min leitura
(Des)compasso em ESG?
Autor
Por Dina Rato, ROC e senior advisor em Governance, Risk & Compliance
10 Fev 2025 - 15:08
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O investimento em Environmental Social e Governance (ESG) tem crescido exponencialmente nos últimos anos, passou de nicho para mainstream e atingiu o valor de 3.2 triliões de USD (Morningstar) em fundos sustentáveis, sobretudo europeus, em 2024. Contudo, o investimento em ESG está longe de ser consensual. Prevê-se que, em 2025, 17 Estados nos EUA emitam legislação estadual anti-ESG ou de boicote, isto é, que impeça instituições financeiras ou gestores de ativos de incluir critérios ESG nas suas decisões de investimento ou simplesmente os impeçam de fazer negócios nesse Estado (BloombergNEF, 2025).
A Blackrock teve que enfrentar processos judiciais, um dos quais no Tennessee por alegada sobrevalorização dos benefícios financeiros associados a investimento em ESG, que culminou com o acordo de maior divulgação das práticas de voto e implementação de medidas de compliance acrescidas de auditorias independentes. A American Airlines foi condenada por quebra de dever fiduciário por ter selecionado a Blackrock como gestora de fundos de pensões e assim ter privilegiado interesses ESG em detrimento dos interesses financeiros dos seus pensionistas (Environmental Finance, 2025). O presidente Trump emitiu ordem executiva a eliminar quaisquer programas de DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) no governo norte americano, a que se seguiram outras empresas como a Google, Amazon, Meta, McDonald, Walmart, Boeing, Accenture, para citar alguns nomes.
Outras empresas mantiveram-se firmes e vocais sobre as suas políticas e objetivos DEI, como seja, a Costco, Apple, Delta Airlines, Cisco, Deutsche Bank. O presidente Trump também revogou mais de 100 políticas regulatórias referentes a poluição do ar e emissões, perfuração e extração, planeamento e infraestrutura, animais, poluição de águas, segurança e substâncias tóxicas, entre outras (The New York Times).
Enquanto isso, a União Europeia, pioneira na regulação do reporte em ESG em vários domínios (Taxonomia, Diretiva de Reporte em Sustentabilidade (CSRD), Normativos de Reporte (ESRS), regulamentação de ESG ratings), e também específica do setor financeiro por via da European Banking Authority (EBA), anuncia que no contexto do processo de simplificação regulatória do Omnibus irá diluir as exigências regulamentares no contexto de ESG no sentido de maior abrangência, simplificação e consistência. Este anúncio despoletou uma série de reações. O ‘chair’ de sustentabilidade do EFRAG (entidade que preparou os ESRS) pede clareza sobre o reporte e uma conselheira sénior de European Banking Federation (EBF) refere que se pode estar a abrir uma caixa de pandora (Environmental Finance, 2025).
As empresas Mars, Unilever e Nestlé avisam que a iniciativa pode comprometer investimentos e competitividade (Enviromental Finance, 2025). O Institutional Investors Group on Climate Change (IIGCC), o European Sustainable Investment Forum (Eurosif), e o Principles for Responsible Investment (PRI) emitem um comunicado conjunto, assinado por 162 investidores, que gerem 6,6 triliões de EUR, e 49 prestadores de serviços, reforçando que a taxonomia da UE, a CSRD e a CSDDD (que requer due diligence da cadeia de valor em ESG) são pilares fundamentais da arquitetura da política de sustentabilidade europeia e chave para ajudar investidores a gerir risco, identificar oportunidades e alocar investimentos. Referem que a regulamentação europeia começa a assegurar transparência e a ter impacto. Alertam que esta iniciativa Omnibus em ESG pode comprometer os objetivos do EU Green Deal e que a estabilidade regulatória é essencial, não obstando poderem beneficiar de esforços focalizados de simplificação e/ou clarificação técnica. Reiteram que a falta de reporte normalizado e informação auditada ESG têm sido desafios com os quais os investidores têm tido que lidar e que a regulação vem clarificar e ajudar na tomada de decisão.
Estaremos perante um retrocesso em investimento sustentável ou em ESG?
A Morningstar (2023) identifica cinco categorias de Fundos (27) anti-ESG:
- i) Anti ESG, que usam a informação ESG e investem em empresas que consideram terem sido penalizadas pelas agências ESG.
- ii) Políticos, que investem em empresas com valores conservadores.
- iii) Renunciadores, que renunciaram ao seu estatuto inicial de ESG por receio de associação.
- iv) Vício, que investem nas chamadas “sin stocks” em setores como bebidas alcoólicas, tabaco, armas e jogo.
- v) Voter, fundos passivos que votam contra propostas ESG em assembleia de acionistas. Até ao terceiro trimestre de 2022, estes fundos tinham um total de ativos abaixo de 250 milhões USD e a partir daí superaram os 2 biliões USD.
Simon Stiell, secretário executivo da UN para a Mudança Climática, quando questionado sobre a saída dos US do Acordo de Paris, refere que esta abriu caminho para outros países aproveitarem a oportunidade de maior progresso económico, mais emprego, menos poluição, menores custos com saúde e energia segura e acessível e que foram assegurados 2 triliões de USD para a transição climática em países desfavorecidos (Reuters, 2025).
Segundo a Bloomberg, a emissão de obrigações e empréstimos para energia limpa atingiu o valor recorde em 2024 de 147 biliões USD nos EUA e que, apesar das instituições financeiras agora evitarem associações a ESG, mantêm o interesse por conta da sua rentabilidade. Analistas referem que a transição é inevitável, que o investimento em tecnologia limpa mais do que duplicou desde 929 biliões USD em 2020, e que em 2024 é liderado pela China com 818,4 biliões USD (mais 20% do que em 2023) (Bloomberg, 2025).
É verdade que maior clareza e transparência no que é ESG é necessária. Em 2024, a ESMA (European Securities and Markets Authority) emitiu orientações sobre o uso de ESG ou sustentabilidade na designação dos fundos europeus, e segundo estudo da Bloomberg 50% dos fundos (cerca de 600 mil milhões de USD de ativos) terão que alterar a sua designação por não cumprirem os critérios ou simplesmente por falta de transparência. Assim, caso queiram manter a designação de ESG, terão que endereçar temas de compliance, gestão de risco e marketing.
Gestores de capital de risco nos EUA referem que mesmo com a atual administração será prioritário assegurar energia fiável, competitiva e abundante nos EUA, que no caso será sobretudo gás natural, nuclear e solar, todas em linha com a descarbonização, e que com a escalada de tarifas provavelmente procurarão investir em energias limpas nos EUA em detrimento da Europa (Bloomberg, 2025).
O ESG está em descompasso? Talvez. Contudo, as mudanças climáticas, a transição energética e o investimento em sustentabilidade, com ou sem sigla ESG, são oportunidades, rentáveis, e vieram para ficar.
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