![](https://jornalpt50.pt/abc/themes/abtheme/images/close_menu.png)
6 min leitura
É possível uma transição justa no caminho para a sustentabilidade?
Autor
Por Ana Pimenta, Chief Impact Strategist na Blink CV
06 Fev 2025 - 15:38
6 min leitura
![](https://jornalpt50.pt//abu/2025/02/CDN-copy-1195x710.jpg)
#image_title
Mais recentes
- Agenda da semana
- Ferramenta de prevenção de fraude da Feedzai integrada em plataforma da Backbase
- BPER contribui para a consolidação italiana e lança oferta sobre Banca Popolare di Sondrio
- O futuro do atendimento ao cliente: a importância da humanização na era da digitalização
- Margarida Maia nomeada diretora-geral da gestora de ativos Hipoges
- Santander recebeu 2.500 pedidos de crédito ao abrigo da garantia pública
![](https://jornalpt50.pt//abu/2025/02/CDN-copy-1195x710.jpg)
#image_title
Num mundo em que as alterações climáticas são evidentes e impactam muitos aspetos e decisões da nossa vida, a transição para uma economia mais sustentável e regenerativa deveria ser a nossa maior prioridade. A responsabilidade de agir aumenta quando nunca tivemos níveis educativos tão elevados e tecnologia capaz de nos ajudar a criar soluções inovadoras.
No entanto, esta mudança não pode ocorrer sem garantir que todos tenham oportunidades de participação e beneficiem com isso. Uma “transição justa” implica que trabalhadores e comunidades vulneráveis, especialmente aqueles dependentes de indústrias intensivas em carbono, não sejam deixados para trás. A economia regenerativa, que se baseia na restauração dos sistemas naturais e sociais é, sem dúvida, uma alternativa promissora para alinhar crescimento económico com respeito ambiental e justiça social.
E o setor financeiro desempenha um papel fundamental, que pode ser o catalisador desta transformação. Para isso, o financiamento sustentável deve focar-se não só na mitigação de riscos ambientais e sociais (o que conhecemos como ESG), mas assumir um papel ativo na criação e desenvolvimento de soluções regenerativas que incluam todos. Os bancos, investidores institucionais e fundos de investimento enfrentam o desafio de adaptar os seus modelos de negócio para apoiar iniciativas que promovam a regeneração de ecossistemas e comunidades locais.
Felizmente, já existem exemplos de projetos e instrumentos financeiros inovadores que demonstram que é possível uma transição justa e um planeta mais sustentável. Um exemplo interessante são as obrigações verdes, que se destinam a financiar projetos de impacto ambiental positivo, como energias renováveis e eficiência energética. Estes títulos permitem que indivíduos, organizações e governos invistam em soluções sustentáveis, promovendo a regeneração dos ecossistemas e a redução das emissões de carbono, ao mesmo tempo que garantem um retorno financeiro. Na União Europeia, a emissão de obrigações verdes aumentou significativamente, passando de 0,3% do total de obrigações emitidas em 2014 para 6,8% em 2023.
A adoção do blended finance, que combina capital público e privado para mitigar riscos e atrair investimentos em projetos de alto impacto social e ambiental, é outro framework que merece ser referido. Este mecanismo pode ajudar a atrair mais capital privado para escalar soluções que contribuem para uma sociedade mais sustentável e justa. Um exemplo recente é o Emerging Market Climate Action Fund (EMCAF), uma parceria entre a Allianz Global Investors e o Banco Europeu de Investimento. Este fundo utiliza um modelo de blended finance para fornecer capital inicial a projetos de mitigação e adaptação climática em mercados emergentes.
Outras iniciativas a destacar incluem o Just Transition Mechanism (JTM) da União Europeia, que mobilizará mais de 55 mil milhões de euros entre 2021 e 2027 para apoiar regiões dependentes de combustíveis fósseis na criação de empregos sustentáveis. O Climate Investment Funds (CIF), uma parceria multilateral de financiamento climático que canaliza recursos financeiros concessionais através de seis bancos multilaterais de desenvolvimento. Estes fundos investem em projetos de energia limpa em economias emergentes, promovendo inclusão social e crescimento económico sustentável.
Os fundos de investimento de impacto – veículos financeiros que têm como objetivo gerar simultaneamente retorno financeiro e impacto social e ambiental positivo e mensurável – são outro instrumento financeiro sustentável inovador. Estes fundos investem em empresas, organizações e projetos que abordam desafios globais, como a sustentabilidade ambiental, a inclusão social e o desenvolvimento econômico sustentável. Nos últimos anos, têm ganhado destaque à medida que investidores procuram alinhar os seus investimentos com valores de responsabilidade e regeneração, e há já vários exemplos pelo mundo fora. No Reino Unido, um dos países mais desenvolvidos nesta área temos, por exemplo, a Bridges Fund Management, uma gestora que investe em empresas sustentáveis que ajudam na descarbonização promovendo simultaneamente a inclusão social e a resiliência ambiental. Outros exemplos são a Pymwymic (Put Your Money Where Your Meaning Is Community), um dos primeiros fundos de investimento de impacto na Europa, e a Rubio Impact Ventures, o primeiro fundo de investimento de impacto nos Países Baixos. Com sede nos Países Baixos, estes fundos investem em empresas que oferecem soluções sustentáveis em áreas como agricultura regenerativa, saúde e energia limpa, com um enfoque importante na equidade e educação.
Outro modelo que pode impulsionar uma economia mais sustentável e inclusiva e que vale a pena explorar é o de steward ownership, no qual as empresas são detidas e geridas por quem mais se preocupa com o seu impacto a longo prazo, como os seus colaboradores e a comunidade envolvente. Este modelo visa garantir que os lucros sejam reinvestidos na missão da empresa em vez de maximizar o retorno para acionistas externos. Empresas como a Tony’s Chocolonely, fabricante de chocolate que luta contra a exploração na indústria do cacau, e a Ecosia, o motor de busca sustentável que utiliza os seus lucros para plantar árvores, demonstram como esta abordagem pode alinhar sucesso económico com impacto ambiental e social positivo.
Uma transição justa também requer o desenvolvimento de frameworks e métricas de impacto claros e transparentes, de forma a garantir que os investimentos em sustentabilidade resultem numa mudança positiva, tanto para o planeta como para a sociedade. Iniciativas como a Science Based Targets (SBTi) e a IFRS Sustainability Disclosure Standards, ajudam a definir diretrizes concretas e consistentes para as empresas medirem e comunicarem os seus progressos. A transparência e a prestação de contas tornam-se assim fatores essenciais para a confiança dos investidores e para a efetividade dos instrumentos financeiros sustentáveis.
Apesar dos avanços, os desafios são enormes. A complexidade e diversidade dos problemas sociais e ambientais em diferentes geografias e culturas, a resistência a mudanças nos mercados financeiros tradicionais e mundo corporativo, as dificuldades regulatórias e a necessidade de requalificação do mercado de trabalho são algumas das barreiras que não podem ser ignoradas.
Experiências em diferentes partes do mundo e setores mostram que uma transição justa é possível quando há uma abordagem intencional e colaborativa entre governos, setor privado e sociedade civil. Olhando para o futuro, é essencial que o setor financeiro continue a inovar e a adaptar-se às exigências de um mundo em transformação. A criação de produtos financeiros acessíveis, que incentivem a inclusão social e ambiental, é fundamental para assegurar que a transição para uma economia regenerativa ocorra de forma justa e eficaz. A colaboração entre todas as partes interessadas e a partilha aberta de conhecimento são fundamentais para garantir que ninguém seja deixado para trás nesta jornada para um futuro mais sustentável e equitativo. E todos podemos (e devemos!) fazer parte desse caminho.
Mais recentes
- Agenda da semana
- Ferramenta de prevenção de fraude da Feedzai integrada em plataforma da Backbase
- BPER contribui para a consolidação italiana e lança oferta sobre Banca Popolare di Sondrio
- O futuro do atendimento ao cliente: a importância da humanização na era da digitalização
- Margarida Maia nomeada diretora-geral da gestora de ativos Hipoges
- Santander recebeu 2.500 pedidos de crédito ao abrigo da garantia pública