Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), reafirmou nesta segunda-feira a importância da independência dos bancos centrais, numa declaração que pode ser interpretada como uma resposta às recentes críticas de Donald Trump sobre as políticas monetárias. A comunicação, gravada em Frankfurt, destacou a necessidade de proteger as instituições monetárias contra pressões políticas, especialmente em períodos de grande volatilidade económica e geopolítica. “A independência dos bancos centrais permite a tomada de decisões difíceis, mas necessárias, para assegurar a estabilidade de preços, mesmo sob intensa pressão política”, afirmou Lagarde.

Embora a presidente do BCE não tenha mencionado diretamente o novo presidente dos Estados Unidos, as suas palavras surgem num momento em que Trump tem defendido publicamente maior controlo governamental sobre os bancos centrais, criticando a autonomia como um obstáculo ao crescimento económico.

Recentemente, Trump sugeriu que bancos centrais, como a Reserva Federal, deveriam estar mais alinhados com as prioridades governamentais. Estas declarações suscitaram preocupações na comunidade económica global, que teme que a politização das decisões monetárias possa comprometer a confiança dos mercados e ampliar a volatilidade macroeconómica.

Lagarde recordou, por isso, o “impacto devastador” da interferência política na política monetária durante a década de 1970, período marcado por choques inflacionários prolongados. Referiu ainda a importância de figuras como Alexandre Lamfalussy, um dos arquitetos do euro, que acreditava que a independência dos bancos centrais era essencial para evitar ciclos de instabilidade económica.

Benefícios da autonomia nas crises

Lagarde sublinhou que os recentes choques inflacionários demonstraram o valor da independência. “A resposta rápida e decisiva dos bancos centrais independentes, com o aumento das taxas de juro, ajudou a estabilizar as expectativas de inflação e a evitar uma crise económica mais profunda”, afirmou.

A presidente do BCE também advertiu que a influência política nas decisões monetárias pode amplificar a volatilidade e minar a confiança pública. Citou estudos que mostram que a pressão política sobre bancos centrais afeta negativamente as taxas de juro, os rendimentos de títulos e o prémio de risco.

Lagarde alertou que as tensões geopolíticas atuais, combinadas com tentativas de limitar a autonomia das instituições monetárias, representam uma ameaça significativa à estabilidade económica global. E reforçou que a independência dos bancos centrais não é apenas uma garantia de estabilidade de preços, mas também um alicerce para o crescimento económico sustentável.

Com a inflação em declínio, mas com as economias ainda a enfrentar choques significativos, Lagarde sublinhou que proteger a independência dos bancos centrais é essencial para enfrentar os desafios económicos e preservar a confiança nas instituições financeiras.