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De Guindos: “A fragmentação da economia global será o maior risco em 2025”
O vice-presidente do BCE alerta para os perigos de uma guerra comercial, sublinha a necessidade de integração europeia, inclundo no setor bancário, e destaca Portugal como exemplo de recuperação económica.
20 Dez 2024 - 16:54
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Luis de Guindos, vice-presidente do Banco Central Europeu
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Luis de Guindos, vice-presidente do Banco Central Europeu
Luis de Guindos, vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), identificou a fragmentação da economia global como o maior desafio que 2025 poderá trazer. Em entrevista ao jornal holandês De Telegraaf, nesta sexta-feira, De Guindos alertou para o impacto das novas tarifas comerciais de importação anunciadas pela futura administração dos Estados Unidos, considerando que uma eventual guerra comercial seria desastrosa. “As tarifas anunciadas podem criar uma situação inteiramente nova, completamente oposta às lições que aprendemos desde os anos 1930 e ao caminho que seguimos após a Segunda Guerra Mundial”, explicou.
O economista apontou não apenas os efeitos diretos das tarifas, mas também a retaliação de outros países como fatores de preocupação. “Se uma guerra comercial eclodir, será extremamente negativa para o crescimento económico e para a inflação. Por exemplo, tarifas de 60% sobre produtos chineses podem desviar fluxos comerciais, impactar taxas de câmbio e gerar incertezas. Ninguém sabe onde isso vai acabar”, frisou.
Apesar de a política comercial não ser responsabilidade do BCE, De Guindos afirmou que a instituição tem um papel crucial ao explicar as consequências destes cenários. “A nossa função é aconselhar e lidar com as consequências. Uma guerra comercial seria uma situação de perdas para todos. Cabe-nos explicar isso e defender prudência nas decisões”, disse.
Portugal como exemplo positivo
O vice-presidente destacou os avanços económicos de alguns países europeus, em especial os do sul da Europa. “Países que enfrentaram grandes dificuldades há 12 anos, como Portugal, estão agora numa posição muito melhor. Portugal regista atualmente um excedente orçamental, tal como a Irlanda e o Chipre. A Grécia e a Itália registam excedentes primários. Precisamente, os ‘suspeitos do costume’ de então estão bem agora, graças às medidas tomadas na altura”, elogiou. Estes avanços contrastam com a situação de países como França, Alemanha, Espanha e Áustria, cujos orçamentos ainda não foram aprovados.
Para De Guindos, a implementação do novo quadro fiscal europeu será essencial. “As regras fiscais foram suspensas durante cinco anos devido à pandemia e à crise energética. Agora, é essencial que os países apresentem planos credíveis de consolidação orçamental”, afirmou.
Desafios estruturais e demográficos
Entre os problemas estruturais da Europa, De Guindos destacou a falta de um mercado único pleno, de uma união bancária e de um sistema fiscal harmonizado. “A Europa ainda é altamente fragmentada em termos de regras para bens e serviços, ao contrário dos Estados Unidos. Precisamos de um sistema bancário mais integrado, com seguros de depósitos comuns, e de um verdadeiro mercado de capitais, com supervisão única e leis de insolvência harmonizadas”, explicou.
O envelhecimento demográfico foi outro tema central da entrevista, com De Guindos a defender uma abordagem pragmática para lidar com a questão. “A população da Europa está a envelhecer, o que limita o apetite por risco e a inovação. Economicamente, é claro que precisamos de uma política ordenada de imigração. A gestão eficaz do impacto social será crucial”, afirmou.
Um alerta para o futuro
O responsável também alertou para os riscos de uma falta de união interna na Europa. “A fragmentação dentro da Europa seria a resposta errada aos riscos crescentes. O euro é um exemplo claro de como a integração fortalece a nossa posição global. A população europeia, mesmo diante de populismos, sabe que uma Europa fragmentada traria mais incertezas”, disse.
Questionado sobre o que o preocupou no passado, De Guindos revelou um receio particular: “A minha pior noite foi imaginar um ciberataque que causasse estragos no sistema de pagamentos. Seria uma situação muito complicada, com consequências graves para todos nós.”
Olhando para o futuro, De Guindos apelou à união e ao pragmatismo. “A preservação do nosso padrão de vida depende de escolhas corajosas e da integração. O futuro nunca foi tão incerto desde a pandemia. Este é um momento decisivo para a Europa e uma chamada de atenção para todos nós”, concluiu.
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