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Sustentabilidade, fraude e pagamentos marcam ano no setor financeiro
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Estudo da Juniper Research apresenta uma gama diversa de alterações e inovações de mercado que vêm para ficar e moldar o paradigma da banca e das fintechs.
16 Jan 2025 - 15:37
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Sustentabilidade, fraude, atividade bancária e pagamentos são considerados os temas mais influentes este ano. De acordo com a Juniper Research, estes assuntos representam “disrupções” no mercado, às quais “os ‘stakeholders’ precisam de responder para assegurar a competitividade”.
O tema que tem mais lugares neste top é pagamentos, com quatro lugares. Em segundo lugar, aparece a atividade bancária com três, a ocupar duas posições está a fraude e com um lugar no top 10 aparece a sustentabilidade.
Top 3: NFC, cartões virtuais e dados biométricos
O primeiro lugar deste ranking, e o mais influente para 2025, é atribuído à competitividade esperada no próximo ano no que toca a pagamentos através de NFC (Near Field Communication – transações financeiras realizadas sem fio a curta distância). Este tema surge devido à abertura da Apple ao mercado. Até 2024, o ecossistema dos iPhones era fechado e não permitia a outros agentes trabalharem a tecnologia NFC nos aparelhos da Apple. Entretanto, a empresa norte-americana decidiu ir no sentido oposto e, agora, outros mercados e aplicações podem expandir para pagamentos com iPhone.
Isto representa oportunidades, também, para operadores de retalho alargarem o seu escopo e os seus sistemas e para fintechs que trabalhem com contas diretamente na Blockchain entrem neste mundo. A Juniper Research não acredita que em 2025 vá acontecer tudo de uma vez, mas garante que a competitividade do mercado vai crescer, com maior impacto na América do Norte e na Europa Ocidental, onde há uma forte penetração das carteiras digitais, mas ainda sobra espaço de crescimento, segundo os dados e conclusões apresentados pela empresa.
Em segundo lugar, os cartões virtuais são considerados a solução revolucionária na gestão de despesas dos negócios. Os cartões das empresas têm vários problemas associados, segundo o estudo apresentado. Nomeadamente, os funcionários podem fazer mau uso dos mesmos, de forma deliberada ou acidental, e pode haver perda ou roubo dos cartões ou das credenciais dos mesmos. “Muitos destes desafios podem ser mitigados com a adoção de cartões virtuais”, argumenta.
Entre os benefícios enumerados estão a emissão instantânea, a possibilidade de colocar limites nos valores gastos e no número de transações, o acesso a dados de transações e a restrição de uso em determinados comerciantes. Tudo isto permite um maior controlo da empresa sobre os gastos e poupa tempo aos funcionários da contabilidade cujo trabalho é precisamente controlar despesas, especialmente por não ser necessário recolher faturas em papel. Para 2025, a Juniper Research prevê que 4% dos pagamentos das empresas sejam feitos com recurso a cartões virtuais, o que faz esta opção equiparar-se, pela primeira vez, aos pagamentos com dinheiro e cheques, revela.
A encerrar o top 3 vêm os dados biométricos comportamentais. Atualmente, segundo os dados apresentados, a possibilidade de contornar um sistema de reconhecimento facial – que é uma forma de biométrica estática – é reduzida. No entanto, quando bem-sucedida, dá acesso a toda a informação de uma conta bancária e outras informações que estejam associadas ao site ou aplicação em causa. Assim, os dados biométricos comportamentais visam analisar todo o comportamento do utilizador enquanto usa a aplicação para perceber se é o verdadeiro dono da conta ou não.
O estudo reforça que isto implica as empresas apostarem num sistema de KYC (Know Your Customer). Com recurso a IA, o sistema recolhe dados como força usada a pressionar o ecrã e velocidade a escrever para perceber se a pessoa a usar a aplicação é quem diz ser. O ranking fala numa adoção de biométricas comportamentais em conjunto com a biométrica estática para uma otimização do processo e, quando possível, com a menor interferência na experiência do utilizador.
4, 5, 6: pagamentos “glocal”, ‘regtech’ e mais um conjunto de leis
A quarta posição vai para as exigências do eCommerce, que estão em crescimento, segundo a Juniper Research. Espera-se uma maior adoção de pagamentos “glocal” por comerciantes. Isto é, os negócios devem adaptar os seus métodos de pagamento de forma a chegarem ao máximo de clientes possíveis, tanto a nível local como global. De acordo com o estudo, uma pessoa que chegue ao checkout e não reconheça uma forma de pagamento familiar tem uma elevada probabilidade de abandonar a compra. A Juniper Research menciona o Brasil, onde o Pix está a ganhar terreno, como exemplo de como os pequenos comerciantes podem ganhar mercado às grandes empresas caso estas não se adaptem de forma local.
Segundo os dados apresentados, o mercado do eCommerce deve crescer de 7 biliões de dólares para 11,4 biliões em 2029 e, explica, as Payment Orchestration Platforms (POP) vão tornar-se importantes. Estas vão permitir pagamentos entre diferentes regiões, com moedas distintas, através de fornecedores de pagamentos diversos, com vista a otimizar o sistema e redirecionar o pagamento através de um determinado canal, caso o primeiro esteja em baixo.
Entrando no campo da regulação da banca, o quinto lugar dá destaque à aceleração da ‘regtech’. A Juniper Research refere o colapso da plataforma de BaaS, Synapse, bem como a ordem de encerramento da Reserva Federal americana para a Evolve Bancorp e a sua subsidiária, Evolve Bank & Trust, como demonstrações de que uma falha na cadeia leva ao “caos”. Assim, a ‘regtech’ – a aplicação de tecnologia de forma a alinhar uma empresa com a regulação em vigor – ganha aqui relevância por, segundo o estudo, criar resiliência a falhas de segurança, evitar erros humanos e, por conseguinte, diminuir os custos gerais de lidar com os desafios associados à regulação.
Ainda na preparação face à regulação, este estudo aponta a preparação para o PSD3 (Revised Payment Services Directive) e PSR1 (Payment Services Regulation) como a sexta tendência. Estas diretivas vêm facilitar a incorporação de serviços financeiros em soluções alternativas, o que, reconhece a Juniper Research, torna a banca mais aberta, mas, ao mesmo tempo, torna os bancos menos viáveis. Alguns, revela, já começaram a estabelecer parcerias e a flexibilizar alguns serviços, como o caso do ‘buy now pay later’, para combater o possível derrame de clientes para fintechs.
Aquisições, transferências, IA e, por fim, a sustentabilidade
Mais perto do fim, em sétimo lugar, aparece a aquisição da Discover pela Capital One. Esta foi a maior aquisição em fintech em 2024, num negócio que custou mais de 35 mil milhões de dólares à Capital One, apesar de ainda estar sujeito a aprovação por parte das entidades reguladoras. A Juniper Research destaca que esta mudança no mercado pode vir a tornar-se uma oposição aos líderes de mercado, a Visa e a Mastercard. A dúvida, aponta a empresa, está na transição dos clientes da Discover para o universo da Capital One e se a Visa e a Mastercard vão querer continuar a colaborar com a Capital One, sendo esta agora uma concorrente direta.
Em oitavo lugar aparece a Wero e a transformação dos pagamentos na Europa. A Wero é uma carteira digital da European Payments Initiative (EPI) e tem a adesão de mais de 30 bancos franceses, alemães e belgas. Usa apenas o número de telemóvel para fazer transferências entre pares – P2P – e tenciona tornar-se P2Pro – pagamentos a comerciantes – no futuro e permitir pagamentos online e em loja e ainda adicionar a opção de ‘buy now pay later’ através da integração com os bancos. Pretende ser uma alternativa a operadores americanos, tais como a Apple Pay.
A Juniper Research prevê um aumento nos pagamentos P2P e P2Pro, dado que os comerciantes vão ter acesso a este sistema e incentivar o seu uso. No entanto, não considera possível prever a evolução da harmonização de pagamentos na Europa apesar do potencial e tendo em conta que a IPR (Instant Payment Regulations) vai abrir portas a outras soluções.
Em penúltimo lugar, o fascínio com a IA vai diminuir com a inovação da fraude e verificação de identidade. Este estudo sublinha que o problema em investir em IA é que tem sido feito sem objetivos concretos e sem perceber a sua utilidade prática. Defende que o investimento nestes projetos tem de permitir ao sistema aprender, o que não é possível com projetos a curto prazo. Assim, a Juniper Research prevê uma canalização de esforços para a prevenção de fraude e verificação de identidade.
Espera-se inovação nestas áreas e uma utilização em rede das mesmas. Mais ainda, é esperado que os bancos comecem, lentamente, a usar IA a nível interno, tendo em conta a regulação a que estão sujeitos, relembra. Espera-se a transição para uso com clientes no futuro, mas não se prevê que seja célere.
Por fim, o décimo lugar traz a fintech sustentável como fator diferenciador dos bancos. Os consumidores têm hoje uma maior consciência sobre o peso das alterações climáticas e o impacto dos serviços financeiros no planeta, aponta a Juniper Research. Neste sentido, os bancos digitais incorporam ferramentas de fintech sustentáveis nas suas aplicações e carteiras. O estudo dá também como certa a necessidade de incorporar ESG para o crescimento de empresas mais pequenas.
Entre as opções possíveis, o estudo elenca uma calculadora da pegada carbónica, a incorporação de soluções que compensem as emissões carbónicas dos utilizadores, a subscrição de projetos de sustentabilidade que ajudam o planeta e ‘marketplaces’ de ações climáticas.
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