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‘Zoom-in’ na atividade comercial dos grandes bancos

Evolução do crédito a particulares e empresas, dos recursos dentro e fora de balanço, rácios de transformação, de eficiência e NPL. Como comparam os cinco maiores bancos portugueses que juntos tiveram quase 5 mil milhões de euros de lucros.

11 Mar 2025 - 07:13

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“Vivemos uma época particularmente difícil e perigosa, nem é preciso descrever a natureza grave das ameaças que enfrentamos, ou as consequências devastadoras se se concretizarem”, disse Ursula von der Leyen no discurso sobre o rearmamento da Europa a 4 de março de 2025. Mas se o futuro parece complicar-se, o presente e o passado recente da Europa estão marcados pelo regresso à prosperidade.

Em 2024, os cinco maiores bancos portugueses (Caixa Geral de Depósitos, Banco Santander, BCP, BPI e Novo Banco) tiveram quase 5 mil milhões de lucros contra 4,45 mil milhões em 2023. Os resultados são bons e os bancos olham de novo para os acionistas.

O Millennium BCP obteve um lucro de 906,4 milhões de euros em 2024, mais 5,9% do que em 2023, dos quais 786,4 milhões são relativos à atividade do banco em Portugal. O dividendo proposto está nos 50%, e o banco vai iniciar um programa de recompra de ações no valor de 200 milhões, já autorizada pelo Banco Central Europeu. A Caixa Geral de Depósitos (CGD) atingiu, em 2024, um lucro recorde de 1,74 mil milhões de euros, uma subida de 34% face a 2023, o que pode significar um novo jackpot para o acionista Estado em 2025, que em 2024 recebeu 825 milhões de euros.

O Banco Santander Portugal teve 990 milhões de euros de lucro, uma subida de 10,7% face a 2023. O Banco BPI reportou um lucro de 588 milhões de euros, em 2024. O Novo Banco teve um resultado líquido de 744,6 milhões de euros, ligeiramente acima do de 2023 e prepara-se para distribuir, pela primeira vez desde a sua criação há dez anos através da resolução do BES pelo Banco de Portugal, 224,6 milhões de euros aos seus acionistas Lone Star e o Estado (direta e indiretamente).

resultados líquidos bancos portugueses

 

Estes resultados refletem o crescimento do PIB, que em 2024 foi 1,9%, a taxa de atividade e o nível de desemprego baixo, as taxas de juro Euribor a um e três meses foram ainda superiores, em média, às de 2023, mas nos prazos dos seis e 12 meses já foram mais baixas. A isto juntam-se os processos de melhoria comercial e operacional, com a digitalização de processos e a progressiva maior disponibilização da sua oferta nos canais digitais, em complemento à rede física o que mostra a afinação da máquina bancária, marcada pela eficiência. Os custos de estrutura mostram contenção, exceto o BCP devido à parte internacional na Polónia e em Moçambique.

rácio de eficiência grandes bancos

De uma forma geral, o produto bancário cresceu, exceto no BCP, baseado, sobretudo, na margem financeira, apesar de o BCE ter iniciado os cortes nas taxas de juro; nas comissões, que somente caíram 1,1% no Santander; e os custos de estrutura que se mantiveram estáveis. Nas comissões líquidas, o seu crescimento deveu-se sobretudo, como no BCP e no BPI, ao negócio de ‘bancassurance’, com as comissões de distribuição suportadas pelas seguradoras no caso do banco gerido por Miguel Maya, ou a liquidação antecipada de participação em resultados de apólices de seguro comercializadas nos anos anteriores, no banco liderado por João Oliveira e Costa.

rácios de atividade grandes bancos

O peso do crédito da habitação

A carteira total de crédito a clientes (bruto) do BPI aumentou 3% para 31,1 mil milhões, mais mil milhões do que no ano anterior, mantendo a quota de mercado em crédito estável nos 12.1%. O crédito (bruto) no Santander ascendeu a 50,3 mil milhões de euros, mais 12,9% do que em 2023. Na Caixa Geral de Depósitos, o crédito aumentou 5% de 45,3 mil milhões para 47,6 mil milhões, salientando-se o aumento de crédito a empresas e institucionais, que subiu 6,2%, para 20,8 mil milhões.

Na atividade do BCP em Portugal, o crédito a clientes (crédito bruto) fixou-se em 38,37 mil milhões de euros em 31 de dezembro de 2024, situando-se 0,7% abaixo dos 38,63 mil milhões de euros no final de 2023. Esta ligeira redução da carteira incorpora, por um lado, uma redução das ‘non-performing exposures’ (NPE) (menos 134 milhões de euros face à mesma data do ano anterior) e, por outro, uma redução do crédito ‘performing’ (menos 121 milhões de euros face ao valor registado na mesma data do ano anterior). Consolidando com Polónia e Moçambique, a carteira de crédito cresceu 0,7%, de 56,8 mil milhões para 57,2 mil milhões de euros. Já os empréstimos a clientes do Novo Banco foram de 29 mil milhões, mais 3% do que em 2023.

A diversificação do crédito faz parte da gestão da carteira de crédito entre o particular e as empresas. A carteira de crédito à habitação do BPI aumentou 5% para 15,2 mil milhões. A contratação de novo crédito à habitação em 2024 atingiu 2,9 mil milhões, correspondendo a um aumento homólogo de 19% e uma quota de mercado de 15,7% (até novembro de 2024). A quota de mercado em termos de carteira de crédito subiu para 14,5%.

A carteira de crédito hipotecário do Santander cresceu 5,5% em termos homólogos, para 23,3 mil milhões de euros no final do ano, que apostou na competitividade da taxa mista, o que atraiu as novas hipotecas. Na Caixa Geral de Depósitos, o novo crédito à habitação registou um valor de 4,12 mil milhões de euros, mais 42% face ao período homólogo, tendo a carteira de crédito passado para 25,5 mil milhões, mais 3,9%. As operações a taxa fixa ou mista continuaram a registar a preferência dos clientes, representando 92% do total dos novos créditos à habitação.

No BCP, o crédito hipotecário na atividade em Portugal fixou-se em 19,55 mil milhões de euros em 31 de dezembro de 2024, registando um aumento de 4,2% face à mesma data no ano anterior, devido a uma crescente procura por este tipo de crédito, à medida que as taxas de juro apresentam uma trajetória descendente.

Uma nota do Banco de Portugal em janeiro de 2025 salientava que, no sistema bancário,  os empréstimos a particulares cresceram 4,9 mil milhões de euros em 2024, o maior aumento anual desde 2009. “Contrariando o comportamento registado em 2023, o montante total de empréstimos concedidos pelo setor bancário aumentou. Em 2024, essa subida foi de 7,4 mil milhões de euros e resultou, por um lado, do crescimento dos empréstimos concedidos a particulares (mais 4,9 mil milhões de euros) e das aplicações junto de outros bancos residentes (mais 2,5 mil milhões de euros). Estes acréscimos foram parcialmente compensados pelo decréscimo dos depósitos junto do Banco de Portugal (menos 6,6 mil milhões de euros). No caso dos particulares, o aumento, que foi o mais elevado desde 2009, deveu-se principalmente aos empréstimos à habitação, mais 3,5 mil milhões de euros, e aos empréstimos ao consumo, mais 1,2 mil milhões de euros”.

Novo Banco e Santander das empresas

No BPI, a carteira de crédito a empresas cresceu 4% para 12 mil milhões. De salientar que o BPI concedeu 1,9 mil milhões de euros de financiamento sustentável. No Santander, o crédito a empresas e institucionais ascendeu a 24,9 mil milhões de euros, com instrumentos como os de apoio à transição energética das empresas nacionais. Na CGD, o crédito concedido a empresas e institucionais representa 54% da evolução total, tendo a carteira alcançado os 20,88 mil milhões de euros (mais 6,2%). (Nota: há um salto. Torna a informação confusa. Passa de consumo para crédito em geral e depois para empresas)

Por sua vez, o crédito do BCP a empresas na atividade em Portugal desceu 7,1% face ao final de 2023, cifrando-se em 16,29 mil milhões de euros no final de 2024. A explicação está na redução de NPE neste segmento e reembolso das linhas Covid, onde o Banco assumiu um papel preponderante na concessão destes financiamentos durante a pandemia. No Novo Banco, o crédito a empresas representa 58%, vale 13,9 mil milhões de euros e cresceu 0,5%.

Se o crédito a empresas é estratégico para os bancos, o crédito pessoal ocupa um pequena fatia do negócio bancário. No crédito ao consumo, o Santander cresceu também, em 8,1%, para 1,9 mil milhões de euros. A CGD registou um crescimento neste segmento, tanto na produção (mais 16%) como na carteira que totalizou, em dezembro de 2024, o valor de 1,2 mil milhões de euros (mais 8,5%). O crédito pessoal na atividade do BCP em Portugal também registou um aumento de 9% face a 2023. A carteira de crédito do Novo Banco representa 35% e é de 10,2 mil milhões em 2024, mais 1% do que em 2023.

Os dinheiros dos clientes

Os recursos de clientes dos cinco maiores bancos atingiram, em 2024, os 336,35 mil milhões, mais do que o PIB de Portugal em 2023, que foi de 267,38 mil milhões de euros.

No BPI, os recursos totais de clientes aumentaram 5%, mais 2,1 mil milhões, totalizando 40 mil milhões de euros no final de 2024. Os depósitos de clientes aumentaram 4%, para 30,5 mil milhões. Já os recursos fora do balanço (fundos de investimento, seguros de capitalização e outros) registaram uma subida de 10%, para 9,5 mil milhões.

Os recursos de clientes no Santander cresceram 5,9%, em termos homólogos, para 45,9 mil milhões de euros. Os depósitos de clientes cresceram 5,4%, para 37,2 mil milhões de euros, acompanhando o aumento da taxa de poupança das famílias que foi  10,7% no 3.º trimestre de 2024, segundo o INE. Segundo o banco, este manteve uma oferta com condições de rentabilidade atrativas no contexto do novo ciclo de taxas de juro, ao nível dos recursos fora de balanço, que cresceram 8,1% face ao final de 2023.

Na Caixa, os depósitos de clientes foram de 86,54 mil milhões de euros, mais 7,5%, com destaque para o crescimento dos depósitos de particulares em Portugal, mais 4,4 mil milhões de euros, atingido um valor de 59,72 mil milhões de euros. Segundo a Caixa, esta manteve a sua posição de liderança tanto nos depósitos totais de clientes, com uma quota de 23,2%, como nos depósitos de particulares, onde registou uma quota de 31,6%.

Na CGD, o total de recursos de clientes na atividade consolidada ascendeu a 109,98 mil milhões de euros em dezembro de 2024, dos quais 23,22 mil milhões de euros são recursos fora de balanço, um acréscimo de 3% face ao valor do final de 2023. No seu conjunto, a evolução do crédito e recursos proporcionou que, em Portugal, o volume de negócios ascendesse a 146 mil milhões de euros em dezembro de 2024, um crescimento de 6% face ao valor de 138 mil milhões de euros, registado no final do ano de 2023.

Em 31 de dezembro de 2024, os recursos totais de clientes consolidados do BCP ascenderam a 102,94 mil milhões de euros, face aos 95,33 mil milhões de euros em 2023. A evolução dos recursos totais de clientes do BCP reflete a subida dos depósitos e outros recursos de clientes (mais 6,11 mil milhões de euros face a 31 de dezembro de 2023) e no lado dos recursos fora de balanço o crescimento dos ativos distribuídos (mais 1,11 mil milhões de euros do que em 2023). Os recursos totais do Novo Banco aumentaram 6,7% para 37,6 mil milhões de euros, com os depósitos a crescer 5,7% para 29,8 mil milhões de euros.

Longe dos tempos de crise

Dois indicadores, o rácio de transformação, que mede o grau de alavancagem do banco, e o rácio de NPL (‘non-performing loans’), que mede as imparidades, mostram as mudanças no sistema bancário relativamente ao passado de crise, durante a década passada. Entre 1995 e 2010, o peso do ‘stock de crédito do setor privado no PIB triplicou, aumentando de 61% para 189% do PIB. O rácio de transformação, isto é, o rácio entre empréstimos e depósitos, subiu de 63% para 149%.

Hoje, os rácios de transformação do BCP e da CGD oscilam entre, respetivamente, 66,3% e 61,8%, enquanto o Novo Banco anda um pouco acima de 80%. O Santander e o BPI, que pertencem ao grandes grupos financeiros espanhóis têm rácios de transformação acima dos 100%.

Entre 2010 e 2018, os bancos a operar em Portugal registaram acima de 46,5 mil milhões de euros de imparidades, das quais 34,9 mil milhões para crédito (incluindo crédito para a aquisição de participações sociais, para projetos de construção e obras públicas, imobiliário e turismo, para acionistas e em menor escala para habitação) e 11,7 mil milhões para outros ativos (incluindo participações sociais detidas e operações financeiras).

Em junho de 2016, os NPL representavam 18% do crédito total. Por isso, tornaram-se tão importantes rácios como o NPE que mede o nível dos créditos não produtivos, isto é, os empréstimos que deixaram de ser pagos pelo que o banco pode perder o crédito em parte ou na totalidade e ainda os ganhos que estavam associados. O NPE refere-se ao reconhecimento como crédito em ‘default’ ou crédito com imparidade.

Hoje, na qualidade de carteira de crédito, dos quatro principais apenas o Novo Banco tem o seu rácio de NPL ainda muito acima de 1,6%, cifrando-se em 3,3%. Este banco tem há uma década atravessado uma reestruturação profunda da sua carteira de crédito. Entre 2023 e 2024, os créditos não produtivos (NPL) reduziram 23,7% para 864 milhões de euros. O rácio de NPL desceu de 4,4% em 2023 para 3,3% em  2024.

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