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Henri Burnay: “Ele compra tudo o que se vende e vende tudo o que se compra”
A história de Henri Burnay (1838-1909), um empresário pioneiro que uniu finanças e indústria em Portugal. Destacou-se na banca, construção, linhas ferroviárias e tabaco. Influenciou a economia do país através de inúmeros empréstimos e outros grandes negócios na viragem do século.
25 Fev 2025 - 07:00
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O Conde de Burnay numa fotografia publicada em 1909. Autor desconhecido. Fonte: Hemeroteca Digital
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O Conde de Burnay numa fotografia publicada em 1909. Autor desconhecido. Fonte: Hemeroteca Digital
Henri Burnay (1838-1909) é o primeiro empresário do século XX e o último do século XIX e foi percursor na forte ligação entre a finança e a indústria. Os grandes empreendimentos neste período têm a sua marca, dos caminhos-de-ferro à construção de novos bairros, das companhias de navegação à viação elétrica da capital, das fábricas metalúrgicas ao contrato do tabaco, das minas aos hotéis. Rafael Bordalo Pinheiro legendou numa litografia de Henri Burnay: “compra, vende, troca, empresta. Põe, dispõe, impõe, repõe, fia, fura e faz”, que Ramalho Ortigão resumiu a “ele compra tudo o que se vende e vende tudo o que se compra”.
Nasceu em Lisboa no primeiro andar da rua de S. Paulo, n.º 12, a 7 de janeiro de 1838, Henri Burnay, um dos nove filhos do matrimónio de Lambertina Fourgeurs Burnay (1806-1873), de Liège, e Henri Burnay Senior (1810-1866), médico, natural de Londres. Os Burnay eram uma família meio-irlandesa, meio escocesa, católica, que estavam ligados ao comércio marítimo que, no século XVII, fugiu de Inglaterra num dos seus barcos e estabeleceu-se em Bovigny, na Bélgica.
O avô paterno de Henri, Jean Baptiste Burnay (1783-1837) chegou em 1809 a Portugal e terá iniciado a sua atividade numa fábrica de curtumes em Torres Novas, onde está sepultado, a que se seguiu a actividade comercial. Foi na empresa do avô, entretanto falecido que, aos 17 anos, Henri Burnay, concluídos os estudos no colégio Luso-Britânico, iniciou a carreira comercial sob a direção do tio e padrinho, João Burnay. Depois passou pela casa Carlos Kruz & Cª como caixeiro, e aos 20 anos, já trabalhava por sua conta, tendo aos 22 anos feito a sua primeira viagem comercial.
Henri Burnay foi representante em Lisboa de Eugène Larrouy, casa comercial belga que tinha no Porto, também como o seu representante, Heitor Guichard. Com este participou na Exposição Internacional do Palácio de Cristal, no Porto, representando a secção belga e, pouco depois, fundou a empresa Burnay & Guichard. Arrendou o Palácio de Cristal, onde montou, como diz Maria Filomena Mónica, “um espampanante parque de diversões e um armazém ao estilo dos que, por essa Europa fora, iam fazendo furor”.
Em 1863, casou com D. Maria Amélia de Carvalho (1847‑1924), de cujo casamento nasceram 11 filhos, um deles falecido pouco depois do nascimento. No ano seguinte, surgiu ligado à Casa Havaneza enquanto arrendatário da tabacaria de que se apossou em 1877.
Numa segunda-feira, 22 de março de 1875, foi lavrada a escritura de constituição da Henry Burnay & Ca, em que se associavam Henri Burnay (45%), o seu cunhado Ernesto Empis (10%) e o negociante parisiense Eugène Larrouy (45%) e os seus fins “são todos os negócios e empresas que a firma social tem ou tiver, tanto em Portugal como em qualquer país estrangeiro”.
Partindo desta empresa, Henry Burnay vai ter um papel capital no último quartel do século XIX, desempenhando um papel estratégico e importante para resolver as dificuldades do Tesouro nacional por meio de empréstimos internacionais. A partir dos seus contactos com parisiense Comptoir National d’Escompte, Henri Burnay tornou-se, no dizer de Rui Ramos, “um caso paradigmático de agiotagem e um dos principais financiadores e credores do Estado”.
A expansão do sistema bancário português foi travada por uma crise bancária em 1876, em que se deu uma corrida aos bancos, muitos dos quais soçobraram, e a uma suspensão da convertibilidade com o padrão ouro. Henri Burnay faz o seu primeiro negócio com o Tesouro nacional quando negociou em Londres um empréstimo de 3 milhões de libras esterlinas para o Governo português, a que se seguiu um contrato de emissão de obrigações prediais do BNU no valor de 1080 contos efetivos e um empréstimo de 39 150 contos. Este papel permitiu, como diz Maria Filomena Mónica, “que durante a crise financeira que conduziu à ruína de tantos homens de negócio portugueses, Henri Burnay prosperasse”.
Nesta altura deu-se uma corrida aos depósitos do Banco de Portugal, que se tornou alarmante por que este não tinha ouro disponível para apaziguar o pânico. Henry Burnay arranjou forma de se poder trocar a cada pessoa notas no valor de 20 mil réis em ouro ou prata na sua Casa Havanesa. Em 1879, partiu para Paris com o encargo de obter mais dinheiro para o Estado português, “era a primeira de uma série de missões de que tanto os governos progressistas quanto os regeneradores o encarregariam”, como refere Maria Filomena Mónica.

Henri Burnay retratado por Rafael Bordalo Pinheiro 1882
Uma estratégia de banco de investimento
A casa bancária Henry Burnay funcionou como um banco de investimentos que em Portugal não existia. Na metalurgia detinha a Empresa Industrial Portuguesa fundada em 1874. Vocacionada para a construção de grandes obras, era gerida por João Burnay e em 1881 tinha 200 operários e um corpo técnico era formado por estrangeiros, que trabalhavam com o ferro vindo Escócia e da Bélgica. Ainda em 1874, o conde Burnay fez uma incursão nos lanifícios ao tomar conta da Companhia de Lanifícios de Alenquer, criada em 1839 e cuja gestão foi entregue a Constantin, o seu tio, bem como, da Companhia de Tecidos Aliança. No papel, detinha a Fábrica de Vale Maior, no concelho de Albergaria e, perto de Tomar, a Fábrica de Papel do Prado que dava trabalho a 200 operários.
Na área imobiliária fez o bairro Camões, mais conhecido pelo bairro do Conde Redondo pois a quinta era anexa ao palácio dos Condes de Redondo, em Santa Marta. Foi inaugurado em 1878 mas, segundo o Dicionário da História de Lisboa, só começou a ser edificado em 1880.
Tinha ainda investimentos em empresas coloniais, nomeadamente, plantações de cacau em S. Tomé (Roças de Porto Alegre, Santo António e Juliana de Sousa); em Angola (Moçamedes), a Companhia de Pesca da Baleia e, em Moçambique, as açucareiras Incomati Estates e The Mutamba Sugar estates. Por isso, um dos bons negócios de Burnay foi, dadas as ligações às atividades coloniais, a intermediação comercial com a reexportação para o norte da Europa de produtos africanos como borracha, cacau e café.
No fim da década de 1880, para fazer face aos défices e arranjar dinheiro para o Tesouro, o governo iniciou a política de concessões a privados. Mas, com a necessidade de fazer dinheiro muito rapidamente, muitas vezes tornavam-se negócios altamente rendosos para os investidores. Um dos negócios que tinha Burnay como acionista, como referiu o historiador Rui Ramos, foi a eletrificação da rede de carris de ferro em Lisboa, acompanhada pelo aumento de veículos, que fez subir os lucros da Lisbon Electric Tramways. Esta empresa, em 1896 conseguira o monopólio da tração elétrica, de 400 mil réis por milha para 9 contos e 200 mil réis.
Tendo como centro a Henri Burnay & Cª, além dos negócios financeiros, comercias e industriais, participou nos consórcios de construção das linhas ferroviárias que recortavam grande parte do território nacional e ligavam à Europa, a partir de 1884. A construção e exploração de diversos caminhos-de-ferro incluíam as linhas de Medina del campo a Salamanca, de Salamanca à fronteira de Portugal, da Beira Alta e da Beira Baixa, de Foz Tua a Mirandela e o ramal de Viseu. Segundo o investigador Afonso Lopes Vieira, citado por Filomena Mónica, com o negócio da linha de caminho-de-ferro entre Salamanca e o Porto, Burnay teria tido um lucro de 180 mil libras. Segundo um cálculo de Anselmo de Andrade, as obras da Regeneração teriam custado 91 mil contos, enquanto a dívida pública aumentou, entre 1854 e 1890, 500 mil contos.
Em 1884, dá-se uma mudança importante na Henry Burnay & Cª, quando Henry Burnay passa a controlar 80% e o seu sócio francês, Eugène Larrouy, deixa de fazer parte da sociedade. O grande capitalista fora o negociante de Paris, e, segundo o balanço de junho de 1880, Larrouy auferira juros de 107 185 500 reis que tinha na empresa, enquanto os rendimentos de Burnay eram sobre 22 511 500 e Empis sobre 3 787 920 réis.
Em 1894, a Real Fábrica de Vidros, criada pelo Marquês de Pombal e entregue aos irmãos Stephens, passou a pertencer a Burnay interessado em dominar o sector. Fundara a Empresa Vidreira Lisbonense, na qual pretendia integrar a Real Fábrica, com a fábrica que possuía em Braço de Prata e uma fábrica de garrafas, que tinha surgido na Amora.
Tinha a nacionalidade belga, mas em 1886 recorreu a José Luciano de Castro(1834‑1914) para que lhe fosse concedida a nacionalidade portuguesa, o que conseguiu, por nascer em Portugal e não estar ao serviço de uma Nação estrangeira. A 7 de agosto de 1886, D. Luís (1838‑1889) concedeu‑lhe o título de primeiro conde de Burnay, que passou depois para a sua família por via varonil e em 1888 o escudo nobiliárquico com a divisa Bonum facito, aures claudito, ou seja, “Faz o bem e tapa os ouvidos”.
Por outro lado, em 1886, com a ascensão ao poder do Partido Progressista, Mariano de Carvalho, que não gostava Conde Burnay, decidiu constituir um polo capitalista alternativo, articulando, um golpe de Estado financeiro na Companhia Real dos Caminhos-de-Ferro, então controlada por Burnay, apoiado em estrangeiros. Estavam definidos dois campos. De um lado, Henri Burnay, em ligação aos regeneradores; do outro lado, Mariano de Carvalho com o conde de Moser, o marquês da Foz e a administração da Companhia Real dos Caminhos de Ferro e do Banco Lusitano, a quem Silva Cordeiro chamava o “quinto poder de Estado”.
O grande negócio do monopólio dos tabacos
Em 1888, interrompe-se o crescimento económico, a que se juntam sobressaltos na remessa dos emigrantes no Brasil, que tinham um grande papel no equilíbrio dos pagamentos externos portugueses e, sobretudo, o pânico gerado pela crise do Baring Brothers em 1890, que era um dos principais credores do governo português e um tradicional fornecedor de créditos a curto prazo em momentos difíceis, que estava agora incapaz de esboçar qualquer apoio. A tudo isto vem juntar-se o Ultimatum, que rompeu os precários equilíbrios políticos. Em 1890, estoira nova crise financeiro que tem o seu epicentro no Banco Lusitano e a cessação de pagamentos do Estado, que fere mortalmente o grupo marquês da Foz. O papel de Henri Burnay torna-se crucial, para o bem e para o mal. Nessa altura 43% das receitas do Estado iam para o pagamento da dívida pública e Portugal era um dos países como uma das dívidas per capita mais elevadas do mundo, 120$000 réis, só superada pela França, com 140$400 réis.
Em 1891, o novo ministro da Fazenda, Augusto José da Cunha, apresentou o projecto de ressurreição do monopólio dos tabacos no Parlamento porque havia dívidas e cofres vazios, mas nem Henri Burnay numa viagem expressa a Paris, conseguiu obter os três milhões de libras que Portugal necessitava; nem a tentativa de Mariano de Carvalho em Paris, junto do Crédit Lyonnais, se consumou.
Para Henri Burnay tornava-se imperioso a celebração de um contrato ligando o monopólio do tabaco a um grande empréstimo. O seu plano era trocar o monopólio por um empréstimo de 36 mil contos destinado a consolidar os 13 mil contos de dívida flututante externa.
Nesta altura, Portugal era objecto de uma nova campanha de descredibilização em Paris, feita pelo filho do Conde de Reillac, que tomara 1,5 milhões de francos do empréstimo Outrequim & Jauge feito a D. Miguel em 1832. Em 1880, o filho tentou cobrar a dívida, mas foi-lhe recusado o pagamento dos títulos. De regresso a Paris, o conde iniciou uma virulenta campanha, que incluiu a colagem de cartazes em Paris a chamar caloteiro ao Estado português, o que levou ao cancelamento de um empréstimo ao Governo e do financiamento do caminho-de-ferro da Beira. Em 1891, Reillac acusou Burnay de ter comprado uma grande quantidade destes títulos por uma ninharia e conseguido passar à frente de todos os credores, quando o Estado português começou a pagar o que devia aos seus portadores.
Henri Burnay liderou um consórcio financeiro que arrematou o contrato de tabaco apoderando-se de uma das mais sólidas receitas do Estado, que começou a vigorar a 1 de maio de 1891 através da Companhia dos Tabacos de Portugal. O contrato concedia o exclusivo dos tabacos, por trinta e cinco anos, a um consórcio luso-franco-alemão, o qual, além do empréstimo, se comprometia a dar ao Estado uma renda anual de 4250 contos.
Assim, 30% do empréstimo foi tomado por um grupo português composto pelo Banco de Portugal, Banco Aliança (Porto), Casa Burnay e a Casa Fonsecas, Santos e Vianna; 45% por um grupo francês integrando o Comptoir National d`Escompte e a casa André Neuflize; e 25% por um grupo alemão participado por vários bancos. Acordou-se ainda que, ao fim de 16 anos, o Estado poderia rever o que ficara estipulado, desde que prevenisse a Companhia com dois anos de antecedência.
Não deixou, porém, de aproveitar o Ultimatum de 1890 e as dificuldades de exportação dos vinhos do Porto para Inglaterra para intermediar um rendoso negócio. Como disse António Barreto, no Douro, em 1890, exportaram-se 80 mil pipas, um recorde, pois antes do aparecimento da filoxera, 20 anos, exportavam-se 30 mil, já que a França, onde Burnay controlava vários canais de negócios, “cujas vinhas tinham sido devastadas antes das portuguesas, comprava todo o vinho que aparecia no mercado, seja para consumo interno, seja para exportação. Comprou em Portugal o que pôde, o que havia”.
Em 1893, o incumprimento financeiro do Estado português no ano anterior fez com que, por pressões alemãs se proibisse a entrada dos novos títulos portugueses na Bolsa de Londres, e Henri Burnay era eleito deputado por Tomar para poder, como escreveu, “em digno e rigoroso debate contraditório, dizer de minha justiça, o reduzir às suas justas proporções as responsabilidades que me pretendem atribuir em tudo quanto sucede”. Nas eleições de 1900 foi novamente eleito deputado por Setúbal, apesar de uma disputa eleitoral renhida e que levou inclusivé a repetição do acto eleitoral em Palmela, mas abandonou porque tinha negócios com o Estado.
A sua rede de contactos incluía instituições financeiras europeias como o Baring Brothers, o Comptoir National d’Escompte, o Banque de Parise e des Pays Bas, a Neuflize & Cie, o Crédit Lyonnais, a Societé Genérale, o Deutsche Bank, o Bank für Handel & Industrie, o Dresdner Bank, o M. Jacob H.S. Stern e o Deutsche Effecten & Wechsel Bank de Frankforte.
Esta capacidade de estabelecer relações internacionais “foi um fator decisivo no processo de globalização da segunda metade do século XIX. Londres, Paris e Frankfurt eram as principais praças financeiras do mundo. O francês era uma língua internacional fundamental e Henry Burnay era um francófono nativo. Com exceção das cartas dirigidas às autoridades políticas portuguesas, todos os documentos disponíveis no arquivo Burnay estão escritos em francês”, salientou Maria Eugénia Mata.
Em 1904, com a aproximação da revisão do contrato dos tabacos, voltou a agitação política. O tema era de tal forma explosivo que os Republicanos o escolheram para ponto central da propaganda. Nos comícios, à mistura com “Morras à Monarquia”, gritavam-se slogans contra os tabacos. O dirigente republicano Afonso Costa tinha, aliás, um especial interesse na polémica, pois era advogado da Companhia dos Fósforos, uma empresa que rivalizava com Burnay na luta pela concessão. No entanto, este conseguiu renovar, em 1906, o contrato por mais 20 anos.
Era no palacete da Rua da Junqueira, adquirido em 1895, que residia a família Burnay, ornamentado com uma assinalável coleção de obras de arte. Além disso, era proprietário da quinta das Laranjeiras, onde, no parque, se instalou o Jardim Zoológico, uma casa apalaçada na praia da Granja, concelho de Gaia, onde a família veraneava, que era frequentada pela família real, o Palácio dos Condes de Povolide, às Portas de Santo Antão que arrendou ao Ateneu Comercial em 1895.
Contribuiu para a realização dos festejos dos Centenários de Camões (1880), de Pombal (1882) e do Santo António (1895). Fundou em Lisboa o Instituto de Beneficência, denominado Albergue ou Vila de Santo António e a Sociedade dos Albergues Nocturnos de Lisboa em 1895.

O Palácio dos Burnay na Junqueira
O patrono de Alfredo da Silva
Em 1858, os sabões, que geralmente constituíam um monopólio e eram arrendados em conjunto com os tabacos, foram liberalizados e tinham surgido várias fábricas, entre as quais a União Fabril, criada pelo visconde da Junqueira, que fabricava sabões, velas e óleos de purgueira, e após atravessar, no início da década de 1870, uma crise passara para as mãos de “vários capitalistas dos mais abastados da praça de Lisboa”, como Henry Burnay e o visconde da Gandarinha. Por sua vez, a Companhia Aliança Fabril existia há pouco mais de uma década, e fora formada pelo Banco Lusitano em 1881, quando absorvera de um devedor, a casa Viúva Burnay & C.ª, o ativo constituído por uma fábrica de óleos, que funcionava na rua do Arco, ao Baluarte de Alcântara.
A entrada de Alfredo da Silva na indústria química verificou-se durante o processo de recuperação da massa falida do Banco Lusitano, que entrara em insolvência em 1891. Esta levou-o, a partir de abril de 1892, a adquirir uma participação e se tornar gestor com o apoio de banqueiros como Burnay, Weinstein e Dotti.
Henri Burnay que era também acionista da rival União Fabril, iniciou uma estratégia de fusão, que se realizou quando a Aliança Fabril foi dizimada por um incêndio e, em 1898, nasceu a Companhia União Fabril (CUF) que passou a ter os adubos como produto principal.
Em 1905, as cartas dirigidas de Paris a Henri Burnay revelam preocupações com a sua saúde, embora ele responda sempre “saúde excelente”. Foi nessa altura que Henri Burnay teve um violento conflito com Alfredo da Silva que levou a que este, em abril de 1906 pedisse a demissão da CUF. Henri Burnay impediu que isso acontecesse, esclarecendo que o incidente não se devia à gestão da CUF, em que reconhecia o zelo e dedicação de Alfredo da Silva.
Este litígio teve a ver com o facto de Alfredo da Silva e Martin Weinstein terem ficado com o controlo da Companhia de Mercado de Gados, que tinha sido um dos grandes ativos do extinto Banco Lusitano, quando Henry Burnay a pretendia adquirir. Pouco depois deste conflito com Alfredo da Silva, sofreu um ataque cardíaco, que o manteve na cama durante três meses e o obrigou a uma convalescença prolongada até 1908. Faleceria em 29 de março de 1909 devido a uma lesão no coração. Deixou nove filhos e trinta e quatro netos e uma grande fortuna.
A Henry Burnay & C.ª representava quase 85% do património de Henri Burnay, cuja fortuna, segundo Nuno Miguel Lima, seria uma das dez maiores em Paris, e estaria entre as 70 a 100 maiores fortunas da Grã-Bretanha. Na época, foi avaliada em 14 mil contos.
MÓNICA, Maria Filomena, “Henri Burnay (1838-1909) in Maria Antónia Pinto de Matos (coordenação), “Henri Burnay, De Banqueiro a Colecionador”, Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, Lisbos, 2003.
VAIRO, Giulia Rossi, “Henri Burnay: o homem público e o homem privado”, in Maria Antónia Pinto de Matos (coordenação), “Henri Burnay, De Banqueiro a Colecionador”, Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, Lisboa, 2003.
LIMA, Nuno Miguel, “Henry Burnay no contexto das fortunas da Lisboa Oitocentista”, Análise Social, nº 192, 2009.
MATA, Maria Eugénia, “Henry Burnay: A case study, Faculdade de Economia, Universidade Nova de Lisboa, 2005.
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